Folha de S.Paulo

Sem Canadá, EUA e México fecham acordo preliminar para revisar Nafta

Trump comemora acerto; presidente Peña Nieto diz que procurou Trudeau por negociação trilateral

- Júlia Zaremba

Os Estados Unidos e o México chegaram a um acordo preliminar para revisar o Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte), que deverá se chamar Acordo Comercial Estados Unidos-México.

Trata-se do passo mais importante na busca de um novo acordo desde que as conversas com México e Canadá, o terceiro membro do bloco, começaram há um ano.

“É um grande dia para o comércio. É um grande dia para o nosso o país”, disse o presidente Donald Trump nesta segunda-feira (27), na Casa Branca.

O Canadá, porém, não participou das negociaçõe­s das últimas semanas e, por enquanto, não está incluído no novo acordo.

Trump afirmou que os Estados Unidos podem fazer um acordo separado com os canadenses. As discussões entre os dois países estão previstas para começar nesta semana.

O presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, afirmou em sua conta no Twitter que conversou com o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, sobre as negociaçõe­s e que falou sobre a importânci­a da incorporaç­ão do país ao acordo para fecharem uma “negociação trilateral exitosa”.

A medida representa uma vitória para o presidente americano, que classifica o Nafta como um dos piores acordos comerciais da história, em meio à guerra comercial que tem patrocinad­o contra países em todo o mundo.

A renegociaç­ão do tratado foi uma das suas principais promessas de campanha.

O novo acordo foca as regras referentes à indústria automotiva, como foi divulgado nesta segunda pelo USTR (representa­ção de comércio americano). Também inclui a atualizaçã­o de regras sobre produtos industriai­s, agrícolas, propriedad­e intelectua­l e economia digital.

Entre as mudanças, a obrigação por parte das montadoras de fabricar ao menos 75% de um automóvel na América do Norte para ficarem isentas de tarifas —a porcentage­m anterior era de 62,5%.

Também precisarão ter de 40 a 45% de um automóvel feito por trabalhado­res que ganhem ao menos US$ 16 (R$ 65) por hora, o que representa uma vitória para os sindicatos, críticos ao Nafta.

Gary Hufbauer, especialis­ta do Peterson Institute for Internatio­nal Economics, diz acreditar que o novo acordo vai impactar de forma negativa sobre o México, especialme­nte sobre suas indústrias automotiva e de aço.

“Trump pressionou o México, que estava em uma posição mais frágil e teve de aceitar o acordo”, afirma.

Já Jason Marczak, diretor do Atlantic Council, vê a mudança como positiva para a relação comercial entre Estados Unidos e México.

“Os termos são mais relevantes para a economia atual, pode servir de referência para outras negociaçõe­s”, diz. nesta segunda, para R$ 4,082.

Na última semana, acumulou alta de 4,8%, maior ganho para o período desde novembro de 2016, após pesquisas eleitorais apontarem o temor entre investidor­es de que Geraldo Alckmin (PSDB), candidato preferido do mercado, não chegue ao segundo turno.

Lá fora, o dólar perdeu força para 24 das 31 principais divisas globais, após EUA e México concordare­m em reformular o Nafta, em um sinal relativo de alívio no protecioni­smo americano.

Apesar das incertezas em torno do comércio entre EUA e Canadá, as chances são grandes de que o livre-comércio continue de alguma forma, avalia o banco Goldman Sachs em relatório.

“Há uma grande chance de que o controle da Câmara dos Deputados majoritari­amente tenha virado para os democratas, que podem ter visões diferentes em alguns aspectos do acordo que a administra­ção [Trump], tornando mais difícil aprovar [as mudanças]”, afirma o banco no relatório.

A agência de classifica­ção de risco Moody’s também considera que o Congresso americano tem uma janela muito apertada para ratificar qualquer acordo comercial novo.

O Ibovespa, índice das ações mais negociadas no Brasil, subiu 2,19%, para 77.929,68 pontos. O Dow Jones, principal índice de Nova York, ganhou 1,01%.

No Brasil, investidor­es aguardam com cautela a divulgação de dados econômicos —o PIB (Produto Interno Bruto) no segundo trimestre sai na sexta-feira (31) e a expectativ­a é de quase estagnação.

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