Folha de S.Paulo

Morto ontem, o arquiteto Paulo Casé marcou a paisagem carioca

- Francesco Perrotta-Bosch É arquiteto e crítico de arquitetur­a

O arquiteto e urbanista carioca Paulo Casé, de 87 anos, morreu nesta segunda-feira (27). Em coma após sofrer um derrame, ele esteve internado ao longo do último mês.

Com dezenas de projetos, foi um dos nomes que mais marcaram a paisagem urbana do Rio de Janeiro na segunda metade do século passado.

Paulo Casé também foi um dos mais controvers­os —criou o Obelisco de Ipanema, marco urbanístic­o edificado no programa Rio Cidade, na rua Visconde de Pirajá, nos anos 1990.

Acerca do projeto, comentou em entrevista publicada em 2012: “Eu fiz consciente­mente o que tinha que fazer, eu tinha que criar um fato para as pessoas irem para a rua e falarem da cidade”.

Realmente foi bem-sucedido em gerar acalorados debates acerca do monumento, que chegou a ter um abaixoassi­nado pedindo sua remoção. E, de fato, acabou demolido na gestão Eduardo Paes.

Ser um oposicioni­sta é uma condição que pareceu recorrente em sua trajetória. Formou-se na antiga Faculdade Nacional de Arquitetur­a, quando ainda o academicis­mo predominav­a no corpo docente local e se estimulava­m projetos em estilo eclético.

Contudo, Casé veio a fazer parte de um grupo com grande interesse pelo modernismo que aflorava no Brasil naqueles anos 1950, estudando os trabalhos de Lucio Costa, Oscar Niemeyer e Sergio Bernardes fora das salas de aula.

Seu arquiteto favorito desde aquela época, entretanto, era o americano Frank Lloyd Wright. Seus primeiros projetos se aproximam da vertente da arquitetur­a moderna conhecida como brutalista.

São desse primeiro período os edifícios Estrela da Lagoa Rodrigo de Freitas, de 1970, e o Asahi, de 1972, na esquina da avenida Paulista com a rua Pamplona, em São Paulo.

Nascido no bairro da Tijuca e tendo passado boa parte da juventude em Copacabana, Paulo Casé encarnou a figura intelectua­l genuinamen­te carioca, de posições fortes, que se explicitar­am no período em que foi colunista do Jornal do Brasil.

Em entrevista em 2003 à revista Projeto, assumiu: “Nós éramos todos racionais, modernos, porém formais. O que, aliás, não deixa de ser a visão do modernismo: forma universal, determinis­mo histórico da arquitetur­a, falta de relação com o meio. Descobri que fui pós-moderno desde 1964, mas no sentido correto do termo, como movimento crítico do moderno”.

Sua aproximaçã­o com o pósmoderni­smo se verifica nos lúdicos postes enviesados e nas pinturas de piso em fortes cores dos projetos urbanos Rio Cidade de Ipanema e Bangu.

Seu interesse pela vida das favelas se explicitou no livro “Favela: Arenas do Rio” e no projeto do Favela Bairro para a Mangueira, onde fez um conjunto habitacion­al de blocos desalinhad­os e um viaduto curvilíneo que liga a parte baixa ao alto do morro.

Entre outros grandes projetos, cabe mencionar o antigo Le Méridien (atual Hilton), no Leme, onde faziam a cascata de fogos de artifício no Réveillon, e o Parque Aquático Maria Lenk, feito para os Jogos Panamerica­nos de 2007.

Também foi autor do livro “A Cidade Desvendada”. Seu filho Paulo Augusto Casé e a diretora Paula Fiúza trabalham agora num documentár­io que apresentar­á as ideias e a obra do arquiteto. Paulo Casé deixa quatro filhos, cinco netos e a mulher, Guga Fróes.

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