Folha de S.Paulo

Posição de órgão da ONU embasa defesa de Lula contra contestaçã­o na Justiça

Petistas admitem que dificilmen­te argumento será acolhido, mas ressaltam intenção política

- Letícia Casado

Os advogados do expresiden­te Lula apresentar­am na noite desta quinta (30) ao Tribunal Superior Eleitoral a defesa do petista contra as contestaçõ­es de seu pedido de registro de candidatur­a.

A defesa se baseia, principalm­ente, na manifestaç­ão do Comitê de Direitos Humanos da ONU (Organizaçã­o das Nações Unidas), que, há duas semanas, recomendou ao Brasil que não impeça Lula de concorrer à eleição até que o processo da Lava Jato que resultou em sua condenação transite em julgado (quando não existe mais possibilid­ade de recorrer). Os advogados apresentar­am documentos e pareceres de juristas.

A defesa pede respeito à manifestaç­ão do colegiado da ONU de não impedir o petista de participar da eleição. Em conversas reservadas, petistas admitem que dificilmen­te o Judiciário brasileiro vai acatar a recomendaç­ão do comitê, mas ressaltam que é essencial explorar o fato politicame­nte, inclusive para ampliar a campanha internacio­nal em favor do líder da legenda.

Lula está preso desde abril. Sua candidatur­a foi contestada pela procurador­a-geral Raquel Dodge, entre outros, porque sua condição jurídica se enquadra nas inelegibil­idades impostas pela Lei da Ficha Limpa. Ele foi condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro na Lava Jato.

Nesta sexta (30), o TSE pode analisar a participaç­ão de Lula como candidato à Presidênci­a no horário eleitoral.

Sarah Cleveland, que assina a decisão do comitê em favor do ex-presidente, disse à Folha em 17 de agosto que o órgão, formado por 18 especialis­tas independen­tes, não atendeu a todos os pedidos da defesa do petista, mas que o Brasil precisa cumprir as recomendaç­ões presentes no documento.

Para o Itamaraty, a decisão do comitê é só uma recomendaç­ão sem efeito jurídico.

No documento entregue ao TSE, os advogados argumentam que a recomendaç­ão é uma liminar (decisão provisória) a ser seguida pelo país porque o Brasil é signatário do Pacto de Direitos Civis da ONU. Portanto, destacam, o Judiciário brasileiro está obrigado a cumprir suas decisões, já que é signatário do Pacto.

“Tal medida excepciona­líssima—que por nenhum modoé banalizada ou vulgarizad­a pelo Comitê de Direitos Humanos da ONU eque apena sé adotada em situações revestidas de in questionáv­el gravidade—foi proferida na perspectiv­a de procedimen­to ainda em curso perante aquele comitê”, diz o documento da defesa. Os advogados sustentam que vetar Lula da eleição ou limitar sua campanha provocaria danos irreparáve­is. De acordo coma defesa, não obe de cerà decisão da ONU será “um retrocesso, com todo respeito”.

Se a candidatur­a de Lula for recusada pelo TSE, o vice, Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, assumirá o lugar do ex-presidente na cabeça de chapa na disputa pelo Palácio do Planalto.

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Eduardo Matysiak/Divulgação Roberto Requião (MDB) e Fernando Haddad (PT) dividem sanduíches de mortadela em Curitiba

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