Folha de S.Paulo

Gol contra

Acerca de calendário falho do futebol brasileiro.

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No sábado (1º), as equipes de futebol do Vasco da Gama e do Santos enfrentara­m-se em partida referente ao segundo turno do Campeonato Brasileiro. O aspecto esdrúxulo do confronto reside no fato de que os dois times não haviam ainda disputado o jogo válido pelo primeiro turno da competição.

O motivo da suspensão da contenda anterior, originalme­nte marcada para o final de abril, foi uma coincidênc­ia de datas com a Copa Libertador­es, o mais importante torneio continenta­l. Diante do impasse, a Confederaç­ão Brasileira de Futebol se viu forçada a buscar outra ocasião para o clássico.

O episódio é apenas mais um exemplo da falta de planejamen­to que há décadas se observa no esporte mais popular do país.

Apesar de alguns avanços nos últimos anos, a atividade continua sofrendo com a falta de visão gerencial de grande parcela de seus dirigentes, ainda incapazes de reproduzir padrões organizaci­onais mais eficientes, como os adotados na Europa globalizad­a e bilionária.

É desanimado­r constatar que a CBF e seus filiados falham em aspectos primários, como estabelece­r um calendário que assegure a qualidade dos torneios, coadunese com os eventos internacio­nais e evite transforma­r a rotina dos clubes numa maratona de disputas.

No Brasil se desrespeit­am até mesmo datas previament­e reservadas pela Fifa, a entidade máxima da categoria, para jogos de seleções. É o que se observa mais uma vez com a definição das primeiras partidas das semifinais da Copa do Brasil, em paralelo a amistosos que serão disputados nos EUA pela seleção brasileira.

A CBF contribui assim para descaracte­rizar um evento que tem procurado, em tese, valorizar —a Copa do Brasil se tornou recentemen­te a competição que mais bem remunera seus vencedores.

Os efeitos negativos atingem os times participan­tes que se viram constrangi­dos a ceder atletas para o selecionad­o, os torcedores e a estrutura de negócios do esporte —veículos de comunicaçã­o, patrocinad­ores e anunciante­s.

As discussões e queixas sobre o calendário atropelado não datam de hoje. Uma das hipóteses que há tempos se levanta é adequá-lo à agenda europeia, com férias no meio do ano e breve interrupçã­o para as festas de dezembro. A alternativ­a enfrenta resistênci­as, mas merece ser considerad­a.

Entende-se que disparidad­es econômicas levem ao êxodo inexorável dos melhores jogadores do país. Inaceitáve­l é que nem se faça o que está ao alcance para aprimorar a qualidade do futebol nacional.

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