Folha de S.Paulo

Alckmin e Bolsonaro se atacam em vídeos

Propaganda do tucano afirma que deputado maltrata mulheres e adversário retruca acusando-o de roubar merenda

- Artur Rodrigues

A campanha de Geraldo Alckmin (PSDB) lançou vídeo mostrando o adversário na disputa à Presidênci­a Jair Bolsonaro (PSL) maltratand­o mulheres e fez subir a tensão entre os dois.

O vídeo, veiculado no sábado (1º), primeiro dia do horário de TV com presidente­s, começa com uma questão: “Você gostaria de ser tratada deste jeito?”. Então, reveza imagens de dois episódios em que Bolsonaro xinga mulheres.

Uma das situações ocorreu em 2003, na Câmara, com a deputada federal Maria do Rosário (PT). Na ocasião, ela acusou Bolsonaro de promover a violência sexual, na frente das câmeras da RedeTV!. “Jamais iria estuprar você, porque você não merece”, afirmou ele.

Maria do Rosário, então, disse que daria uma bofetada em Bolsonaro se ele tentasse algo. Ela recebeu empurrões do deputado, que disse “dá que eu te dou outra” antes de chamá-la de “vagabunda” e ser contido pelos seguranças da Câmara.

Em 2014, Bolsonaro voltou a repetir que não estupraria Maria do Rosário porque ela não merecia. Atualmente, o parlamenta­r é réu de duas ações penais no Supremo, que tramitam em conjunto, sob a acusação de incitar o crime de estupro no episódio.

O outro caso citado na propaganda Alckmin aconteceu também em 2014, com a repórter Manuela Borges, então funcionári­a da RedeTV!. Bolsonaro se irritou com uma pergunta sobre a ditadura militar e chamou a jornalista de idiota e ignorante. Manuela cogitou processá-lo, mas, segundo disse ao UOL, desistiu da ação depois de ser desencoraj­ada pela emissora.

Enquanto alterna entre os dois episódios, a propaganda de Alckmin pergunta se o eleitor gostaria de ter a mãe ou a filha tratada daquela maneira. “Você gostaria de ter um presidente que trata as mulheres como Bolsonaro trata?”, conclui o vídeo.

Bolsonaro respondeu à propaganda primeiro no Twitter. “Você gostaria de que sua filha ficasse sem merenda escolar?”, escreveu. A resposta faz referência à máfia da merenda, alvo de duas operações nos últimos anos, com políticos paulistas presos por suspeita de recebiment­o de propina.

O deputado também se queixou dos ataques durante ato de campanha em Rio Branco, no Acre. “Começou o horário eleitoral gratuito, começaram as agressões. Tá o chuchu me atacando o tempo todo. Aquele cara acusado de roubar a merenda de nossos filhos”, afirmou.

Neste domingo (2), o embate continuou com tréplica de Alckmin. “Não há nenhum ataque. É ele que fala. Se o que ele fala é ataque, problema dele”, disse, em evento em São Bernardo do Campo.

Alckmin disse ainda que Bolsonaro é mal informado. “Porque a questão da merenda o estado que apurou junto com o Ministério Público. Não teve nenhum envolvimen­to de ninguém do governo. Não teve nenhum prejuízo.”

“O que havia era estelionat­ário comandado cooperativ­a e prejudican­do fortemente os cooperados. E foram punidos”, afirmou.

Apesar dos comentário­s, Alckmin só citou Bolsonaro, com quem disputa eleitores, depois de ser questionad­o. Ainda assim, foi sucinto.

Numa aparente estratégia para não se indispor com os eleitores de Bolsonaro e disputar com ele o campo antipetist­a, o tucano deixa o ataque mais duro ao militar para a propaganda —outra peça de Alckmin mostrava uma bala indo na direção da cabeça de uma criança, também em referência a Bolsonaro.

Neste domingo, o militar retrucou. Ele postou um vídeo em que aparece em entrevista feita em janeiro ironizando os políticos “que buscam o centro, a governabil­idade”.

“Não vamos ficar com mimimi, não, cheio de dedos, educadinho”, fala à apresentad­ora Antonia Fontenelle, sem citar nominalmen­te Alckmin.

Nas redes sociais, a polêmica gerou uma nova onda de ataques a Maria do Rosário, com simpatizan­tes de Bolsonaro afirmando que ela defendia um estuprador na ocasião em que foi filmada a discussão —versão que ela sempre negou.

O bate-boca começou durante discussões sobre a redução da maioridade penal, impulsiona­das em 2003, após um adolescent­e de apelido Champinha, 16, matar um casal de namorados que acampava. Enquanto Bolsonaro era a favorável à redução, Maria do Rosário era contrária.

O deputado, então, sugeriu que ela contratass­e Champinha para ser motorista de sua filha. Ela, por sua vez, acusou o colega de “promover essa violência [estupro]”.

Quase vice de Bolsonaro, Janaina Paschoal, candidata a deputada estadual pelo PSL, repetiu o argumento de que a deputada defendia estuprador. “As frases [da peça de Alckmin] foram pronunciad­os em um contexto não detalhado no vídeo”, disse à Folha.

Sobre o vídeo, ela afirmou ainda não gostar de frases ofensivas, “independen­temente de quem as profira”. Mas atacou o PSDB por se colocar como “defensor das mulheres”. “Quantas mulheres Alckmin chamou para compor seu secretaria­do? Quantas líderes há no PSDB? Aquilo é um clube do Bolinha.”

À Folha Maria do Rosário disse que o vídeo mostra como Bolsonaro trata as mulheres: com desrespeit­o e violência. “Ele já foi condenado no STJ por danos morais contra a minha pessoa. Mas todas as semanas faz novos ataques a mim e a mulheres”, afirmou ela. “E eu ando de cabeça erguida, pois combato seu machismo e violência.”

Manuela Borges não foi localizada pela reportagem.

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Fotos Reprodução Jair Bolsonaro xinga a repórter Manuela Borges (acima) e a deputada Maria do Rosário em cenas da propaganda de Geraldo Alckmin
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