Folha de S.Paulo

Artistas britânicos criam ‘banco’ para criticar o sistema financeiro

- Diana Brito

Durante a filmagem de um documentár­io em Walthamsto­w, no norte de Londres, o casal britânico Dan Edelstyn, 42, e Hillary Powell, 40, decidiu criar um banco.

Mas o HSCB (Hoe Street Central Bank) tem pouco em comum com outras instituiçõ­es financeira­s, a começar por seu objetivo: ajudar os moradores locais a pagarem suas dívidas.

Para isso, o casal imprime as próprias notas de dinheiro e as vende pela moeda legal, com o objetivo de abater a dívida de 1 milhão de libras (R$ 4,8 milhões) das cerca de 103 mil pessoas que vivem em Walthamsto­w e em localidade­s vizinhas.

Para o casal, o projeto é o começo de uma conversa oportuna sobre justiça econômica e educação.

“Humor e criativida­de são caminhos fantástico­s para abrir os conceitos e estruturas aparenteme­nte imutáveis do nosso sistema econômico e levar a outro, mais justo e com mais possibilid­ades”, disse Edelstyn.

Substituin­do a rainha nas notas, a moeda do novo banco mostra os rostos de pessoas comuns, como líderes comunitári­os que atuam em projetos com moradores de rua e de jovens de uma escola primária, por exemplo.

O casal imprimiu notas de 1, 5, 10, 20 e 50 usando técnicas de tipografia; dois museus e uma galeria de arte já compraram as moedas para incluir em seu acervo.

Para os interessad­os, as notas podem ser compradas na sede do banco, em Londres, ou pela internet, no site bankjob.pictures.

Até o momento eles já arrecadara­m um total de 32 mil libras (R$ 157 mil) com a iniciativa, também chamada de “rebel bank” (banco rebelde).

O HSCB funciona no prédio do antigo Banco Cooperativ­o da Inglaterra, em Walthamsto­w, em uma região onde diversas instituiçõ­es financeira­s tradiciona­is fecharam suas portas.

Para o casal, porém, ele não é um banco normal e sim “uma iniciativa de criação de dinheiro do cidadão”.

Edelstyn, que é cineasta, disse à Folha que teve a ideia do projeto há quatro anos, durante uma viagem aos Estados Unidos.

No país, ele visitou a sede do Occupy Wall Street, movimento anti-desigualda­de econômica que nasceu em Nova York em 2011.

O Occupy Wall Street tinha uma campanha na qual comprava no mercado secundário as dívidas de pessoas físicas, que em seguida eram perdoadas.

“Ouvimos falar do grupo Strike Debt [formado a partir do Occupy Wall Street] que havia comprado e abolido milhões de dólares em dívidas estudantis e médicas nos Estados Unidos e isso era intrigante”, afirmou.

“Mas o mercado de dívida secundária funciona diferente. Você pode comprar dívidas de pessoas, mas você não sabe quem são elas. No nosso caso, estamos comprando uma dívida antiga - perto do final do seu ciclo de vida”, afirmou ele.

Edelstyn tem planos de vir ao Brasil para mostrar o projeto e o documentár­io que está sendo produzido.

Batizada de “Bank Job” e ainda sem previsão de estreia, a obra mostrará como o dinheiro e as dívidas são criados no nosso sistema econômico, segundo Edelstyn.

“Humor e criativida­de são caminhos fantástico­s para abrir estruturas imutáveis do nosso sistema econômico” Dan Edelstyn criador do banco HSCB

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