Folha de S.Paulo

Arcebispo faz novas acusações contra papa

Carlo Viganò diz que Francisco mentiu para fiéis sobre encontro nos EUA com tabeliã contrária a casamento gay

- Jason Horowitz

O arcebispo que acusou o papa Francisco de ter acobertado abusos sexuais cometidos por padres da Igreja Católica nos EUA e defendeu sua renúncia retomou sua ofensiva com novas e detalhadas acusações que fazem aumentar a pressão sobre o pontífice. O acusador, arcebispo Carlo Maria Viganò, inicialmen­te disse que desligaria seu celular e desaparece­ria, por temor por sua segurança após sua carta bombástico do domingo passado (26). Mas ele passou a fazer uma série de declaraçõe­s, publicadas em blogs conservado­res católicos. Em uma nova carta divulgada pelo site LifeSiteNe­ws no fim de semana, o arcebispo deu sua versão sobre o controvers­o encontro do papa com Kim Davis, funcionári­a do governo do estado de Kentucky que se recusava a emitir certidões de casamento para gays. Sua descrição do encontro contradiz a versão do Vaticano e sustenta que o papa e seus assessores mentiram para o público sobre o evento, que ameaçou eclipsar a viagem do papa aos EUA naquele mês de setembro de 2015.

Viganò está alinhado a grupos conservado­res da igreja que se apropriara­m do escândalo dos abusos sexuais nos EUA para atingir Francisco e sua agenda. Eles acreditam que o papa está abandonand­o as regras e tradições da igreja em favor de uma ênfase na inclusão, como a de gays, que Viganò e seus aliados culpam pela pedofilia na igreja.

O arcebispo disse que decidiu se manifestar após artigo no The New York Times em que Juan Carlos Cruz, vítima de abuso no Chile, relata conversa que teve com o papa sobre o encontro com Davis. Segundo Cruz, Francisco lhe disse que não sabia quem a funcionári­a era e que ficou horrorizad­o e mandou “demitir o núncio” —uma referência a Viganò, então núncio do Vaticano nos EUA.

“Um deles está mentindo: Cruz ou o papa? O que é certo é que o papa sabia bem quem Davis era, e ele e seus colaborado­res aprovaram a audiência privada”, escreveu Viganò.

Segundo ele, o arcebispo Paul Ghalagher, chanceler do papa, disse então que o encontro não apresentav­a impediment­oslegaisee­mitiu“umaopinião incondicio­nalmente favorável” ao evento, que foi então consentido por Francisco.

Viganò diz ter testemunha­do o encontro em 24 de setembro. Segundo ele, o papa abraçou Davis, “lhe agradeceu por sua coragem e a convidou a perseverar”.

O Vaticano não se pronunciou. Antes, autoridade­s eclesiásti­cas afirmaram que Viganò age por vingança por não ter sido promovido a cardeal.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil