Folha de S.Paulo

Caminhonei­ros preparam ato na ANTT em defesa da tabela do frete

Após alta no preço do combustíve­l, categoria volta a falar em parar estradas em um novo protesto

- Heloísa Negrão, Ana Estela de Sousa Pinto, Nicola Pamplona e Taís Hirata.

Os grupos de mensagem de caminhonei­ros no WhatsApp voltaram a ficar ativos desde o anúncio da alta de 13% no preço médio do diesel na última sexta-feira (31).

O reajuste reflete em particular a forte alta do dólar e praticamen­te zera o efeito de redução que foi possível a partir do subsídio oferecido pelo governo para por fim à paralisaçã­o em maio.

A categoria ainda questiona que a tabela do frete rodoviário não está sendo adotada e organiza para o dia 12 um protesto na sede da ANTT (Agência Nacional de Transporte­s Terrestres), em Brasília.

Ao longo de todo o final de semana, um grande número de áudios atribuídos a caminhonei­ros circulou nas redes sociais convocando para uma nova paralisaçã­o. Alguns anunciaram que ela teria início nesta segunda-feira (3).

As redes sociais, como Facebook e WhatsApp, foram os instrument­os de mobilizaçã­o usados pelos caminhonei­ros na paralisaçã­o de 11 dias em maio.

As entidades do setor são reticentes sobre a questão. Não confirmam que haverá paralisaçã­o nesta semana, mas ventilam a possibilid­ade de que ela venha a ocorrer se não tiverem seus pleitos atendidos.

O caminhonei­ro Salvador Edimilson Carneiro, o Dodô, que administra no Facebook a página da UDC-Brasil (União dos Caminhonei­ros do Brasil), com 2.000 integrante­s, afirma que já há uma movimentaç­ão para que os caminhonei­ros voltem a parar.

Carneiro é membro do Sindicato dos Transporta­dores Rodoviário­s Autônomos de Bens do Estado da Bahia. Ele é caminhonei­ro há 12 anos e participou dos protestos de maio, quando criou a página no Facebook. Novata e desconheci­da, a UDC–Brasil foi a única organizaçã­o que divulgou nota afirmando que haveria uma paralisaçã­o após o feriado da Independên­cia (dia 7 de setembro).

Segundo Carneiro, o comunicado foi uma iniciativa isolada de um dos membros do grupo de Whatsapp, mas ele confirma a disposição da categoria em discutir uma nova manifestaç­ão. “Se fosse pela empolgação, hoje íamos amanhecer parados em vários pontos”, afirma.

Mas argumenta que vai esperar o ato na ANTT: “Nós vamos juntar dez caminhonei­ros de cada estado do país e vamos para Brasília, para a frente do prédio da ANTT. Sem baderna. Vamos fazer igual aos sem-teto, vamos invadir o prédio e só sair de lá quando atenderem a gente.”

A Abcam, que reúne caminhonei­ros autônomos, confirma ter detectado focos de insatisfaç­ão por aplicativo­s de trocas de mensagem, mas diz que ainda não vê mobilizaçã­o suficiente para nova paralisaçã­o. A entidade disse que pretende se reunir com o gover- no para discutir o tema e que “fará o possível para evitar nova paralisaçã­o” da categoria.

Do Mato Grosso, Gilson Baitaca, líder do Movimento dos Transporta­dores de Grãos, afque se a ANTT não se posicionar sobre a aplicação da tabela do frete, é grande o risco de haver novas paralisaçõ­es.

Baitaca também afirma que as transporta­doras não cumprem os preços da tabela e que não há fiscalizaç­ão a respeito. “Queremos ver a lei chegar na ponta, nos caminhonei­ros que estão nas estradas”, diz.

Outra liderança, Wallace Landim, conhecido como Chorão, não vê espaço para uma nova greve antes desse ato. “Acho que parar agora é um tiro no pé. Tem gente infiltrada tentando usar a categoria como massa de manobra para isso, mas não tem como”, afirma Landim.

Após a adoção da tabela, associaçõe­s e empresas entraram com ações contrárias à imposição do preço para o transporte de mercadoria. O ministro Luiz Fux, do STF (Supremo Tribunal Federal) conduz o caso e decidiu por fazer uma audiência pública que irá ocorrer no dia 27.

A agência de transporte­s soltou uma nota em seu site afirmando que, devido à variação no preço do diesel, irá promover ajustes na tabela do frete, conforme previsto na lei.

A assessoria de imprensa do Palácio do Planalto disse que não houve reunião sobre a questão no final de semana. O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, afirmou neste domingo (2) que o governo mantém diálogo constante com os caminhonei­ros e entende que “não existem motivos para um novo movimento grevista”.

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