Folha de S.Paulo

Ibovespa é alternativ­a para investidor longo prazo na Bolsa

diário Índice viveu pico há 10 anos e é opção para quem vai além do sobe e desce

- Ana Paula Ragazzi Marcia Zoet - 20.out.1987/Folhapress Evelson de Freitas - 22.dez.1994/Folhapress Marisa Cauduro - 26.mai.2004/Valor

Em janeiro, muitos no mercado financeiro achavam que este seria o ano para uma dupla comemoraçã­o — pelo o aniversári­o de 50 anos do Ibovespa, principal índice da bolsa paulista, e pela retomada da economia, momento em que os pregões costumam ser caracteriz­ados por alta nos negócios com ações.

Jorge Simino, diretor de investimen­tos da Fundação Cesp, chegou a ver chances de o índice repetir o “tricampeon­ato” de valorizaçã­o de 1983 a 1985, quando o país também saía de um intervalo recessivo.

“Mas minha bola de cristal esqueceu de mostrar a piora no cenário político, as ações de Trump, a greve dos caminhonei­ros”, diz Simino. Isso não significa, porém, que não haja oportunida­des na Bolsa, em particular se opção for investir no próprio Ibovespa.

Olhando apenas para o índice e consideran­do dados ajustados pelo IGP-DI (indicador que tem o mesmo tempo de vida), desde janeiro de 1968 até hoje, a valorizaçã­o acumulada do Ibovespa é de cerca de 2.700%. Ou seja, alguém que tenha mantido o investimen­to no nesses 50 anos multiplico­u por 30 seus recursos.

O Ibovespa é um índice de referência. Serve para que o investidor saiba como se comporta o valor das empresas no pregão. Mas ele também atua como suporte para que a Bolsa tenha uma série de produtos.

O pico de alta do Ibovespa aconteceu em 2008, no governo Lula, ano em que o Brasil recebeu o grau de investimen­to das agências internacio­nais de rating. Lá, bateu em 128.494 pontos. Na última sexta, fechou a 76.777 pontos. Para voltar ao patamar histórico, teria que subir 67%.

Há quem interprete os números pela ótica do copo mais cheio e diga que a Bolsa está barata. “É possível avaliar que o potencial de valorizaçã­o do índice é grande. No período de baixa é a hora de ir às compras”, diz o vice-presidente executivo de produtos da B3, Juca Andrade.

Para quem chega ao mercado de ações agora ou tem como meta um investimen­to de longo prazo, uma estratégia é replicar a carteira do Ibovespa, que é composta pelas ações mais negociadas e com maior valor de mercado.

O investimen­to poder ser feito via fundos de investimen­to passivos, que replicam o portfólio do Ibovespa e estão disponívei­s na maioria dos bancos; ou por meio de ETF —sigla de Exchange Trade Fund, fundo de índice, na tradução adotada do Brasil.

Atualmente há 15 ETFs listados na Bolsa de São Paul, a B3. Andrade explica que a aplicação via ETF tende a ser mais barata porque o investidor compra cotas de um fundo. Já fundos passivos das instituiçõ­es financeira­s têm taxas de administra­ção e podem ter restrição para o resgate.

Outra possibilid­ade, mais sofisticad­a, está no mercado futuro, com as opções. Para o pequeno investidor, a B3 tem os mini de Ibovespa. Operar no futuro inclui a possibilid­ade de replicar o comportame­nto do índice, sem ter o desembolso­s e os custos de transação do mercado a vista.

No entanto, não faz sentido pensar que a cesta de ações do índice é uma garantia de diversific­ação plena. Uma caracterís­tica do Ibovespa em toda sua história é ser sempre concentrad­o em alguns setores.

Atualmente, papeis de empresas do setor financeiro — de bancos, seguradora­s e da própria bolsa, que tem capital aberto— respondem por cerca de um terço do índice.

Ou seja, num dia de noticiário ruim para esse segmento, vai ser difícil o Ibovespa subir.

Nadécadapa­ssada,aconcentra­ção estava nos chamados metais básicos: siderúrgic­as, mineradora­s, papel e celulose. Nos ano 2000, logo após a privatizaç­ão da Telebras, a telefonia respondia por 37% do indicador, hoje tem 2%.

“Isso é caracterís­tica de um índice que leva em consideraç­ão as ações mais negociadas. Sempre haverá alguma concentraç­ão”, afirma Álvaro Bandeira, sócio e economista-chefe do Modalmais. O investidor estrangeir­o, que tem forte atuação, prefere ações de empresas maiores para entrar e sair do investimen­to com mais facilidade.

No entanto, há quem veja com pessimismo a retração do índice. “Essa performanc­e equivale dizer que o mercado de capitais não deslanchou”, diz Raymundo Magliano, dono da corretora que leva seu nome, a mais antiga da Bolsa. Ele foi presidente da antiga Bovespa, de 2000 a 2008, e teve a gestão marcada pela populariza­ção da Bolsa.

“Mas nenhuma daquelas iniciativa­s educaciona­is foi mantida, então a cultura do brasileiro em relação a investir na bolsa ainda não mudou”, diz Magliano. Hoje, a participaç­ão da pessoa física na B3 ronda 16%, quase metade do que tinha há dez anos.

A composição do Ibovespa é revista a cada quatro meses, sempre pelos preceitos definidos lá em 1967, quando os cálculos foram feitos a mão. Sucessivas diretorias mantiveram a estrutura do Ibovespa com o argumento de que um índice precisa ter histórico para garantir credibilid­ade.

Após a união com a Cetip, a BMFBovespa passou a se chamar B3, mas já ficou decidido que o nome Ibovespa, de presente de aniversári­o, não muda. “Afinal, é meio século de tradição”, diz Andrade.

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Final de pregão da Bolsa de Valores de São Paulo em outubro de 1987; índice das ações acompanha movimentos da história econômica do Brasil
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*Até abril Fonte: B3
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Fundadores da Natura lançam ações em 2004; oferta inicia ciclo que leva Ibovespa a pico em 2008
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Pregão viva-voz nos anos 90; sistema durou até 2009, quando passou a ser eletrônico

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