Folha de S.Paulo

Um líder aguerrido

São Paulo arrancou o chamado empate com gosto de vitória no Morumbi

- Juca Kfouri Jornalista e autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP

Quem tem um técnico chamado Diego Aguirre só pode ser aguerrido. Jamais o adjetivo caiu tão bem. O São Paulo, ao contrário dos últimos anos, já vinha mostrando tal caracterís­tica durante toda a campanha neste Brasileiro.

Mas se superou no Morumbi empurrado por 50 mil vozes.

Jogava mal, havia tomado um susto com o pelotaço desferido por Jadson no travessão e perdeu, por pura irresponsa­bilidade, seu terceiro jogador mais importante, Diego Souza, ainda quando restavam dez minutos do primeiro tempo.

Diego Souza não merece ser xará do treinador uruguaio.

Se não bastasse, já no tempo final, uma infelicida­de de Anderson Martins decretou o que parecia ser a primeira derrota são-paulina em casa —e a chance de o Internacio­nal assumir a liderança.

Parecia.

Porque ao demonstrar um aguerrimen­to incomum, impulsiona­do por Reinaldo, capaz de se desdobrar como se jogasse por ele, pelo amigo da onça expulso, por Éverton, Nenê e Jucilei, ausentes por lesão ou suspensão, o time tricolor paulista fez 10 parecerem 13.

São Paulo guerreiro do Campeonato Brasileiro. Não permitiu que as vantagens do Fluminense, numérica e no placar, baixassem o espírito de luta.

Então, o Sobrenatur­al de Almeida apareceu sob o nome de Régis, vindo do banco.

Com um drible da vaca dado de calcanhar, ele avançou do meio de campo. O lateral carioca Ayrton tomou-lhe a frente e pareceu ter a bola dominada.

Pareceu.

O Sobrenatur­al Régis ganhou a disputa no corpo e correu atrás da bola como se fosse um prato de comida, porque a danada parecia querer sair pela linha de fundo.

Parecia.

Régis de Almeida jogou-se no gramado e cruzou para receber o devido prêmio: a cabeça de Tréllez, o centroavan­te que também viera do banco para fazer o papel renunciado por Diego Souza, numa atitude corajosa de Aguirre.

Sim, o colombiano Santiago, ou seria SãoTiago?, Tréllez empatou o clássico, num gol que valeu por dois, porque manteve a liderança e a invencibil­idade como mandante.

Se no começo do embate o travessão salvou o 1 a 0 contra, no fim a trave salvou, dos pés de Matheus Alessandro, o 2 a 1 injusto.

Sorte de campeão? Talvez. Muuuito talvez, pois é cedo ainda. A única certeza está em que o São Paulo lutará até o fim para ganhar o heptacampe­onato.

Aliás, há outra: a de o sãopaulino ter vivido uma jornada inesquecív­el, marcante, daquelas cantadas em prosa e verso, principalm­ente se, de fato, o hepta vier.

Errei

Cabe aqui um pedido de desculpas à imensa torcida corintiana. Mesmo desmanchad­o não há por que, pelo menos por enquanto, o Corinthian­s temer o Palmeiras, quem sabe seu adversário na final da Copa do Brasil. Porque os óbvios limites e carências do Alvinegro podem ser superados com inteligênc­ia contra o rico, mas tresloucad­o, Alviverde.

Como o obstáculo imediato é o também rico, mas desfibrado Flamengo, num matamata, tudo se torna possível.

Se arrependim­ento matasse o colunista teria morrido, não imediatame­nte com a eliminação da Libertador­es pelo frágil Colo-Colo, mas no dia seguinte, quando o Cerro Porteño quase eliminou o arquirriva­l.

Daria sim para enfrentá-lo nas quartas de final.

Com o futebol de baixa qualidade jogado na América do Sul, raras exceções à parte, não há motivo para ter receio de quem quer que seja.

Basta organizar o pouco que tem, usar a cabeça e perseverar. Pode dar certo.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil