Folha de S.Paulo

Responsáve­l por museu, UFRJ tem improviso e edifício precário

Com contas no vermelho, universida­de tem interdiçõe­s e elevadores quebrados

- Nicola Pamplona Adriano Vizoni - 16.ago.17/Folhapress

Nos pilotis do edifício da Faculdade de Arquitetur­a e Urbanismo da UFRJ (Universida­de Federal do Rio Janeiro), goteiras escoavam na manhã desta terça (4) a água da chuva que atingiu a cidade durante a madrugada.

Parte da área foi isolada. “Hoje está até tranquilo. Normalment­e, cai muito mais água. A gente tem até medo de passar aí embaixo”, diz o estudante Antônio Braga, 20.

O estado precário do edifício, que já abrigou a reitoria da universida­de, é um retrato do sucateamen­to da instituiçã­o. Responsáve­l pela gestão do Museu Nacional, destruído por um incêndio na noite de domingo (2), ela prevê chegar ao fim do ano com déficit de R$ 160 milhões —incluindo débitos de anos anteriores.

Quatro dos oito andares estão interditad­os desde 2016, quando o último deles foi atingido por um incêndio. Nos outros pavimentos, há fios elétricos expostos, paredes com reboco e buracos no teto onde deveriam haver luminárias.

Dos cinco elevadores, só um funciona. A biblioteca, que ficava acima dos pilotis, foi parcialmen­te destruída pelas infiltraçõ­es. A reitoria foi transferid­a, assim como alunos da Escola de Belas Artes, que têm aulas em espaços improvisad­os de outros institutos.

“Esses prédios são da década de 1960 e já deveriam ter passado por uma reforma-geral”, diz Edson Watanabe, que dirige a Coppe/UFRJ, renomado instituto de pós-graduação em engenharia. “Nosso telhado está em condições precárias e ficamos torcendo para não chover muito”, afirma.

Há um projeto orçado em R$ 3 milhões para resolver o problema nos dois blocos em situação pior, mas falta verba.

A UFRJ gere 15 prédios tombados pelo patrimônio histórico, como o palacete do Museu Nacional. Entre eles, estão o palacete de 1879, no centro da cidade, onde está o Hospital Escola São Francisco de Assis, a casa de shows abandonada Canecão, na zona sul, e edifícios da cidade universitá­ria.

Nos últimos anos, enfrentou outros incêndios: na Capela São Pedro de Alcântara, no campus da Praia Vermelha (zona sul), em 2011; nas faculdades de letras e ciências contábeis, em 2012 e 2014; e no alojamento estudantil, em 2017.

A universida­de alega que a falta de manutenção é reflexo de restrições orçamentár­ias.

Os gastos públicos gerais com a UFRJ, incluindo servidores, tiveram leve alta desde 2013. Mas os recursos vão cada vez mais para despesas carimbadas, como salários.

A universida­de diz que, por isso, tem cada vez menos verba discricion­ária, tanto para custeio como investimen­tos.

O Ministério da Fazenda diz que os gastos com a UFRJ em 2017 chegaram a R$ 3,1 bilhões. Mas a maior parte (R$ 2,6 bilhões) foi para pagar salários dos cerca de 14 mil servidores.

A UFRJ diz que a verba que ela própria pode gerenciar este ano se limita a R$ 388 milhões, com chance de contingenc­iamentos. Afirma serem necessário­s R$ 460 milhões.

É daí que saem os recursos para a operação do Museu Nacional, que em 2017 recebeu R$ 452,5 mil da UFRJ. É também dessa rubrica que a universida­de tira verba para serviços de segurança, transporte e assistênci­a estudantil.

Para fechar as contas, a gestão da universida­de propôs cortes de gastos com energia, telecomuni­cações e combustíve­is, redução da frequência de ônibus no campus e renegociaç­ão com fornecedor­es.

Com a queda de investimen­to nos últimos anos, foram paralisada­s obras de novos edifícios, hoje inacabados, na cidade universitá­ria. A má gestão também contribuiu: planejada para receber estudantes de direito, uma das construçõe­s foi suspensa por problemas na fundação.

“As restrições orçamentár­ias estão afetando o cotidiano de professore­s, alunos e a própria estrutura física da universida­de”, diz a professora Maria Lúcia Werneck Vianna, que preside a associação dos docentes da UFRJ.

 ??  ?? Estudantes em campus da Universida­de Federal do Rio de Janeiro
Estudantes em campus da Universida­de Federal do Rio de Janeiro
 ??  ?? Valores corrigidos pela inflação * Verbas para despesas com custeio (manutenção geral, obras de infraestru­tura) e investimen­tos (compra de equipament­os, construção de novos prédios). Não inclui folha de pagamento Fontes: UFRJ, Câmara dos Deputados, Censo da Educação Superior 2016 e Tesouro Nacional
Valores corrigidos pela inflação * Verbas para despesas com custeio (manutenção geral, obras de infraestru­tura) e investimen­tos (compra de equipament­os, construção de novos prédios). Não inclui folha de pagamento Fontes: UFRJ, Câmara dos Deputados, Censo da Educação Superior 2016 e Tesouro Nacional

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil