Folha de S.Paulo

Perdas e ganhos

- Bruno Boghossian

O PT aceitou correr o risco de frustrar uma fatia de seu eleitorado ao esticar até o limite a substituiç­ão de Lula. Dirigentes argumentam que insistir na manutenção do ex-presidente na corrida é a melhor maneira de garantir a fidelidade de petistas de baixa renda —mesmo que a demora afaste a classe média.

A sigla acompanha o humor de seus eleitores com pesquisas periódicas. Os números, segundo integrante­s do partido, mostram que a ansiedade pela substituiç­ão de Lula se concentra principalm­ente em segmentos intermediá­rios de renda.

Estes eleitores têm mais acesso à informação, têm consciênci­a de que são baixas as chances de o ex-presidente ser candidato, agem pelo chamado “voto de opinião” e já procuram alternativ­as por conta própria —antes, portanto, que Lula abençoe Fernando Haddad oficialmen­te.

Os números alarmaram parte da direção do PT ao indicarem sinais de uma migração de votos de Lula para Ciro Gomes (PDT). Ainda que Marina Silva (Rede) herde uma fatia maior de eleitores do petista, é o ex-governador cearense quem causa maior desconfort­o entre petistas que monitoram o fluxo na esquerda.

Apesar do risco, dirigentes petistas insistem que qualquer precipitaç­ão na troca de Lula por Haddad prejudicar­ia o partido em sua principal trincheira, que é a população de renda mais baixa. Esta, avaliam, não absorveria gestos que pudessem insinuar que o PT desistiu de Lula, rifando-o da corrida eleitoral.

Entre eleitores que ganham até dois salários mínimos, 58% dizem que votariam “com certeza” ou “talvez” no candidato de Lula. Em uma faixa de renda acima, de dois a cinco salários, esse índice cai para 43%.

Embora a lentidão da sigla para substituir seu candidato amplie as angústias do eleitor de classe média, o PT acredita que é preciso manter o holograma do “Lula candidato” aceso para reter o eleitorado mais pobre, base de suas forças.

Depois, caberá a Haddad a missão de recuperar a classe média que poderá migrar para Ciro e companhia.

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