Folha de S.Paulo

Agora é cinza

- Ruy Castro

No domingo, enquanto o fogo devorava 200 anos de história com o incêndio do Museu Nacional, eu me perguntava. O que estariam pensando os ministros do Planejamen­to, da Educação e da Cultura que serviram aos 17 presidente­s da República que sucederam Juscelino quando este, em 1960, levou a capital do Brasil para a lunar Brasília e virou as costas ao patrimônio histórico e artístico brasileiro, em grande parte sediado no Rio?

Eu gostaria de perguntar também a cada um desses presidente­s (há seis vivos, inclusive —parece— o atual) por que, em algum momento de sua administra­ção, eles nunca puseram os pés no museu. Que Collor, Lula, Dilma e Temer nunca tivessem aparecido, entende-se —são ignorantaç­os, devem achar que um museu desses só serve a fins turísticos. Mas a mesma restrição se pode fazer a um que sempre se apresentou como um intelectua­l, sociólogo, amigo de vários daqueles antropólog­os e historiado­res —Fernando Henrique Cardoso.

Quando se sabe que o orçamento anual do museu em 2013 era de míseros R$ 515 mil e, desde então, só fez diminuir, é de se perguntar em que país estamos. Um valor de R$ 515 mil é visto como troco nas grandes investigaç­ões escusas levantadas pela Lava Jato —pois é isto que cabia ao museu e o governo ainda conseguiu diminuir. Naquele ano, o museu ganhou da Câmara carioca uma verba de R$ 20 milhões, que poderia ter resolvido seus problemas: cupim, poeira, infiltraçõ­es, ligações clandestin­as e fios desencapad­os. Este dinheiro, no entanto, foi “contingenc­iado”, engavetado pelo governo federal, e nunca chegou ao museu. A presidente avara chamava-se Dilma Rousseff.

No dia do bicentenár­io do museu, em abril último, seus diretores armaram uma pequena festa. Nenhum dos ministros de Temer, nem o da Educação nem o da Cultura, compareceu.

Só deixaram para aparecer nas cinzas.

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