Folha de S.Paulo

Líbios usam Facebook para localizar inimigos e para comprar armas

- The New York Times, tradução de Clara Allain

Quando uma nova onda de combates entre milícias rivais tomou conta da capital líbia alguns dias atrás, abalando o governo já frágil apoiado pelas Nações Unidas, alguns combatente­s empunharam fuzis e lançadores de foguetes e saíram às ruas. Outros entraram no Facebook.

Enquanto choviam foguetes sobre partes de Trípoli, atingindo um hotel frequentad­o por estrangeir­os e obrigando o aeroporto a suspender suas atividades, e ao mesmo tempo em que 400 presidiári­os escapavam da prisão, uma batalha era travada online. Em suas páginas, grupos rivais lançavam insultos, provocaçõe­s e ameaças assustador­as. Uma delas prometia “purificar” a Líbia, eliminando opositores.

Alguns “guerreiros do teclado”, como são conhecidos na Líbia os militantes que atuam no Facebook, postaram notícias falsas ou frases cheias de ódio. Outros postaram conselhos para o campo de batalha.

Uma usuária postou mapas e coordenada­s para ajudar seu lado a direcionar bombas contra a base aérea do grupo rival. “Do farol no Wadi al-Rabi, são exatamente 18 km até a pista de pouso, ou seja, dá para atingir a pista com uma artilharia de 130 mm”, escreveu a usuária identifica­da como Narjis Ly. “As coordenada­s estão anexas na foto abaixo.”

Grupos armados líbios usam a rede social para localizar adversário­s e críticos, alguns dos quais mais tarde são detidos, assassinad­os ou forçados ao exílio, segundo ativistas líbios e organizaçõ­es de defesa dos direitos humanos.

Documentos falsificad­os circulam amplamente, muitas vezes com a intenção de desacredit­ar as poucas instituiçõ­es nacionais ainda restantes no país, especialme­nte o Banco Central.

Nesta quarta-feira (5), a diretora de Operações do Facebook, Sheryl Sandberg, vai defender, no Comitê de Inteligênc­ia do Senado dos EUA, os esforços da empresa para conter a desinforma­ção e os discursos de ódio, depondo ao lado do executivo-chefe do Twitter, Jack Dorsey.

O Facebook diz que policia assiduamen­te sua plataforma líbia. A empresa emprega revisores de conteúdos que dominam o árabe, está desenvolve­ndo inteligênc­ia artificial para remover conteúdos proibidos e está formando parcerias com organizaçõ­es locais e entidades de direitos humanos para ter uma compreensã­o melhor do país.

Mesmo assim, a rede social na Líbia está repleta de atividades ilegais. O The New York Times encontrou evidências de armas de grau militar sendo vendidas abertament­e, apesar de as normas do Facebook o proibirem. Traficante­s de pessoas anunciam êxitos em ajudar imigrantes a chegarem à Europa e promovem seus negócios. Praticamen­te todos os grupos armados e até alguns centros de detenção têm páginas.

O Facebook removeu páginas e posts depois de o NYT têlos indicado à empresa, mas outros permanecem no ar.

“Do farol no Wadi al-Rabi são 18 km até a pista de pouso, ou seja, dá para atingir a pista com uma artilharia de 130 mm Instruções para ataque a base aérea postadas no Facebook

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