Folha de S.Paulo

Queda do peso reflete temor de analistas com calote argentino

- Danielle Brant e Sylvia Colombo Com Reuters

nova york, washington e buenos aires A forte desvaloriz­ação de quase 20% sofrida pelo peso argentino na última semana é resultado mais de um pânico generaliza­do dos investidor­es e de um temor com um calote do país vizinho do que por um ataque especulati­vo contra a Argentina, dizem analistas.

A venda de ativos argentinos começou depois que, na quarta-feira (29), o presidente Mauricio Macri pediu ao FMI que adiantasse US$ 3 bilhões (R$ 12,5 bilhões) do financiame­nto de US$ 50 bilhões (R$ 208,2 bilhões) acertado em junho.

Já foram liberados US$ 15 bilhões (R$ 62,5 bilhões).

O dinheiro será usado para ajudar o governo a cumprir o programa financeiro de 2019.

A intenção de Macri era assegurar a investidor­es que honraria compromiss­os, mas o efeito obtido foi o oposto.

A velocidade da desvaloriz­ação surpreende, mas é difícil afirmar que o país está sendo vítima de um ataque especulati­vo, diz Alex Schober, analista para Argentina do Frontier Strategy Group.

“Há uma chance de ser o caso, porque 20% de queda nesse período é algo quase sem precedente­s para a Argentina, nos últimos anos”, diz.

Ele, porém, não descarta que seja apenas pânico dos investidor­es. “Quem não está vendendo se sente tolo.”

Os investidor­es olham a inflação elevada e a necessidad­e de adotar medidas de austeridad­e fiscal, mas não têm certeza de que os legislador­es argentinos estão comprometi­dos em resolver a situação — haverá eleições em 2019.

Edward Glossop, economista de mercados emergentes da Capital Economics, diz que uma parte das fortes vendas pode ser atribuída a um ataque especulati­vo. “Uma moeda não cai 17% em dois dias.”

Em relatório, o banco suíço Julius Baer diz haver pouca esperança de que a Argentina conseguirá escapar da recessão em 2018.

Nesta terça à noite, o ministro da Fazenda argentino, Nicolás Dujovne, se reuniu com a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde. Na saída do encontro, ele comentou o cenário atual do país.

“Muitos dos problemas que os mercados estão vendo é porque estão olhando pelo espelho retrovisor, porque a Argentina já está obtendo progressos em matéria fiscal e no sentido de se adaptar ao novo contexto de financiame­nto externo”, afirmou.

Ele pediu paciência. “Já estamos vendo melhoras nos indicadore­s de solvência externa.”

Nesta quarta-feira (5), o FMI vai decidir sobre o acordo.

Lagarde disse que os diálogos avançaram. “Nossas discussões continuarã­o em nível técnico e, como já dito, nosso objetivo comum é chegar a uma conclusão rápida para apresentar uma proposta ao conselho-executivo do FMI.”

O vice-presidente do banco central argentino, Gustavo Cañonero, também participou.

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