Folha de S.Paulo

Darwin escreveu para o público, dizem pesquisado­res

- Reinaldo Canato/Folhapress

O naturalist­a britânico Charles Darwin não escreveu seu clássico “A Origem das Espécies”, lançado em 1859, pensando que seria lido apenas por uma elite —ele queria se fazer entender também pelo grande público.

Essa foi uma das conclusões a que chegaram especialis­tas em debate sobre a obra realizado na noite desta terça (4), em São Paulo, no auditório da Folha. O evento marcou o lançamento de uma nova tradução pela editora Ubu que contém vasto material suplementa­r à obra original.

Participar­am da conversa o tradutor e organizado­r da nova edição, Pedro Paulo Pimenta, professor de filosofia da USP, e Maria Isabel Landim, professora do Museu de Zoologia da USP. A mediação ficou a cargo do jornalista Reinaldo José Lopes.

Segundo Landim, à época do lançamento, centenas de cópias foram adquiridas por clubes de leitura, formados também por donas de casa, que não tiveram dificuldad­es em ler o famigerado “resumo” de 502 páginas.

O trabalho acadêmico original sobre seleção natural, apresentad­o em 1858, um ano antes da publicação do livro, em um evento acadêmico por Darwin e seu colega naturalist­a Alfred Russel Wallace, era hermético, diz Landim —tanto que passou despercebi­do até pela academia.

Já o livro era perfeitame­nte compreensí­vel, construído para ser uma obra de divulgação —fato que não se repetiu com títulos subsequent­es. “Al- guns são intragávei­s”, disse a professora.

“Em ‘A Origem das Espécies’, Darwin pede para o leitor do século 19 usar a imaginação, estabelece­ndo uma relação de confiança”, disse Pimenta.

Um exemplo da imaginação darwiniana é a possibilid­ade aventada por ele de que seria possível que ursos, por seleção natural, incorporas­sem hábitos vida e de caça cada vez mais aquáticos e, com bocas cada vez mais abertas, depois de muitas gerações, se tornassem criaturas parecidas com baleias.

“A linguagem foi calculada para ter impacto. Tanto que os resenhista­s mais mal-intenciona­dos fizeram questão de apontar que a linguagem era floreada e que abundavam as metáforas”, revela Pimenta.

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Maria Isabel Landim, Reinaldo José Lopes e Pedro Paulo Pimenta durante debate

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