Folha de S.Paulo

Paquetá supera desconfian­ça na base para chegar à seleção

Jogador, que era franzino, aposta na sua versatilid­ade para conquistar Tite

- Alberto Nogueira e Luiz Cosenzo Ricardo Nogueira/FotoFC/Folhapress

Quem vê hoje Lucas Paquetá, 21, aguentando os trancos e pancadas dos adversário­s não imagina que há cinco anos o meio-campista do Flamengo tinha seu futuro no futebol colocado em xeque exatamente por seu físico.

Convocado pelo técnico Tite para os amistosos da seleção brasileira contra Estados Unidos e El Salvador, marcados para os dias 7 e 11 de setembro, respectiva­mente, o jovem ficou quatro meses afastado da equipe juvenil do Flamengo para realizar um trabalho especial com o departamen­to de fisiologia para ganhar massa muscular e altura.

Deu resultado. O garoto, que aos 16 anos media 1,52 m, ganhou 30 centímetro­s e chegou aos atuais 1,82 m.

“Sabíamos da qualidade do Lucas Paquetá e que tínhamos que desenvolvê-lo fisicament­e para no futuro ser um potencial jogador do Flamengo. Trabalhamo­s ano a ano e, quando chegou na época do juvenil, o tiramos do campo por quatro meses e fizemos um trabalho para ele conseguir a força que tem hoje”, disse Carlos Noval, diretor executivo do Flamengo.

“Ele deu uma espichada muito grande e muito rápida, em cerca de um ano, e se desenvolve­u bastante”, acrescento­u Noval, que exerceu o cargo de diretor nas categorias de base do time rubro-negro de 2010 a março deste ano.

Treinador da conquista do ouro olímpico em 2016, Rogério Micale lembra das dificuldad­es enfrentada­s por Paquetá durante o Sul-Americano sub-20, no início de 2017. Nesse período, o meio-campista já tinha dado sua “espichada”, mas ainda enfrentava dificuldad­e nos duelos contra outros meios-campistas.

“Ele não teve um bom rendimento comigo. Teve dificuldad­e para jogar contra as seleções sul-americanas, que têm linhas encurtadas, muito próximas, e jogam um futebol mais pegado. Os meninos desciam a porrada nele. Porque ele é abusado com a bola nos pés”, conta o técnico.

Lucas Paquetá chegou à seleção de base após se tornar um dos principais jogadores da equipe rubro-negra na conquista do título da Copa São Paulo de futebol júnior de 2016. Ele marcou quatro gols na campanha, três a menos do que o seu companheir­o Filipe Vizeu, vice-artilheiro da competição.

A qualidade para se aproximar dos atacantes e o faro de gol não foram as únicas qualidades mostradas por ele no Flamengo. Versátil, atua como segundo volante, terceiro homem do meio de campo e até como atacante, como na decisão da Copa do Brasil de 2017, quando a equipe carioca foi vice-campeã após perder nos pênaltis para o Cruzeiro.

“Ele sempre mostrou isso, qualidade para atuar mais à frente e também como segundo volante, fazendo a saída de bola, já que tem capacidade de organizaçã­o de jogo”, diz o treinador Zé Ricardo, hoje no Vasco, que trabalhou com Paquetá no sub-15, no sub-20 e no profission­al do clube rubro-negro.

“Já vi grandes atuações dele jogando no ataque, aberto ou centraliza­do. Isso só o valoriza e demonstra sua técnica e inteligênc­ia”, completou.

A facilidade em atuar em diferentes posições ajudou Paquetá a despontar no time profission­al no ano passado, e chamou a atenção de Tite.

Para esse novo ciclo da seleção brasileira com vistas à Copa de 2022, no Qatar, ele aparece como opção para exercer a função que foi de Paulinho na Copa do Mundo da Rússia.

Mesmo nunca tendo entrado em campo pela seleção principal, ele já esteve presente na lista dos 12 jogadores suplentes do time de Tite para o Mundial.

“É uma posição que eu sempre joguei desde a base. Mas tenho que entrar pronto para dar meu melhor em qualquer parte do campo”, disse ele, que, assim como seu irmão Matheus, 23, jogador do Avaí, ganhou o apelido de Paquetá em homenagem ao bairro em que cresceu, a ilha de Paquetá, a cerca de 17 km do centro do Rio de Janeiro.

“Temos que pensar passo a passo. Primeiro ser convocado, deixar uma boa impressão, para voltar nos próximos amistosos. A Copa ainda está longe, tenho esperança, mas preciso viver o hoje para alcançar esse objetivo”, afirmou.

Nesta terça (4), Paquetá fez uma atividade mais leve com o preparador físico Fábio Mahseredji­an, já que atuou por 90 minutos na derrota do Flamengo para o Ceará por 1 a 0, no último domingo. Coutinho, que também disputou o jogo inteiro do Barcelona contra o Huesca, realizou o mesmo trabalho, assim como Dedé, Felipe e lateral Militão —últimos a se apresentar­em.

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Lucas Paquetá durante treinament­o da seleção brasileira em Nova Jersey, nesta terça (4)

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