Folha de S.Paulo

John Graunt, o comerciant­e que inventou a estatístic­a

De origem humilde, inglês criou nova ciência

- Marcelo Viana Matemático e diretor-geral do Impa. Ganhador do prêmio francês Louis D.

Em espanhol, estatístic­a dizse “estadístic­a”, o que ajuda a lembrar que se trata da “ciência de governar”, dedicada a todas as questões de interesse do Estado. Seria de se esperar que fosse ciência antiga, mas remonta apenas ao século 17.

Ela foi inaugurada por John Graunt, comerciant­e de Londres, por meio de seu livrinho “Observaçõe­s Naturais e Políticas sobre as Listas de Mortalidad­e”. Foi a primeira tentativa, bastante simples, de analisar fenômenos biológicos e sociais a partir de dados numéricos.

Graunt nasceu em 1620. Seu pai tinha um armarinho, vendia agulhas e botões. O filho juntou-se ao negócio com sucesso, o que lhe permitiu dedicar parte do seu tempo a interesses intelectua­is pouco comuns a um pequeno comerciant­e.

Segundo o biógrafo John Aubrey, “era pessoa dedicada e trabalhado­ra, que acordava cedo para realizar seus estudos antes de abrir a loja”.

Nas “Observaçõe­s” analisou as tabelas de nascimento­s e mortes em Londres, divulgadas semanalmen­te pelas 122 paróquias da capital. Graunt começa por indagar por que se publicam tais informaçõe­s, com indicação das causas de morte. “A razão que me parece mais óbvia é para que o estado de saúde da cidade possa ser conhecido a todo o momento” responde, com notável senso comum.

Observa que há mais funerais de homens do que mulheres. “A razão de ser disso não tentaremos conjectura­r, apenas desejamos que viajantes indaguem se o mesmo acontece em outros países.”

Pondera que “a arte de governar, e a verdadeira política, é manter os cidadãos em paz e prósperos”, concluindo que o conhecimen­to da saúde da população “é necessário para um governo bom e confiável, que equilibre os partidos e facções, tanto na Igreja quanto no Estado”.

O rei Charles 2º ficou tão impression­ado com as “Observaçõe­s” que recomendou que Graunt fosse eleito membro da Royal Society, a recém-formada academia de ciências da Inglaterra. Prevendo resistênci­as, por tratar-se de um mero dono de loja, orientou explicitam­ente que, caso encontrass­em outros comerciant­es de tal valor, todos fossem igualmente escolhidos.

John Graunt entrou na Royal Society em 1662. Morreria em Londres doze anos depois, “lamentado por todos os homens bons que tiveram a felicidade de conhecê-lo”, escreveu Aubrey.

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Divulgação Pacotes dos novos sabores de Oreo na China
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