Folha de S.Paulo

Curador questiona ideia de originalid­ade com pop art e estátuas impressas em 3D

- Isabella Menon

Dedos de um boneco sujos de sangue são cortados por uma faca. À primeira vista, pode parecer um filme de terror. A aflição se transforma em constrangi­mento logo em seguida, quando um pênis de plástico tem uma ereção repentina. As cenas descritas são mostradas em looping em televisore­s de tubo dispostos em fila indiana.

Ao lado das telas, uma parede de cores vibrantes no estilo pop art remetem a Andy Warhol. Tanto os monitores como o mural são trabalhos da americana Sturtevant, morta em 2014, aos 89 anos. Durante a vida, ela copiou o trabalho de artistas consagrado­s.

É assim que se inicia o recorte do artista-curador Alejandro Cesarco. O hall de entrada, segundo ele, é uma introdução aos temas que serão retratados dentro do seu espaço que, além da repetição, trabalha com questões como a originalid­ade e seus limites.

“São questões fundamenta­is e básicas sobre como lidar com as sombras do passado e as suas influência­s. São difíceis de responder, mas necessária­s para um diálogo”, detalha o artista uruguaio.

Denominada “Aos Seus Pais”, a mostra organizada pelo autor radicado em Nova York tem nomes de três gerações diferentes, nascidos entre os anos 1920 e a década de 1980— só ageração mais nova realizou trabalhos inéditos.

Em diálogo com Sturtevant, o austríaco Oliver Laric, nascido em 1981, também trabalha com questões de originalid­ade. Na Bienal, há uma obra em que ele imprime em 3D esculturas gregas clássicas usando um material transparen­te.

Em uma parede da exposição de Cesarco, fotografia­s de copos emoldurada­s em quadros surgem enfileirad­as. São de obras de autoria do hiper-realista alemão Peter Dreher, que retrata utensílios do cotidiano.

Por ali, estão também obras ready-made, entre elas as de um discípulo de Marcel Duchamp, Cameron Rowland, o mais jovem do espaço. Ele se apropria de objetos cotidianos e subverte seus significad­os.

Outra artista que trabalha coma repetiçãoé Louise Lawler. Ela cria intervençõ­es sobre fotografia­s de obras de outros autores. Na Bienal, há desenhos dela como “Still Alive (Candle)”, que recria a imagem de uma natureza-morta só com linhas negras.

Há também vide o instalaçõe­s, co moada artista Sara Cwynar, que relaciona cores vermelhas a uma fábrica, com cenas de trabalhado­res e marcas. Par aC e sarco, há um diálogo“coma beleza, a nostalgia e o respeito pela comerciali­zação e produção das coisas”.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil