Folha de S.Paulo

Obras refletem atrito entre natureza e cultura

Argentina Claudia Fontes cria espaço com instalaçõe­s e vídeos sobre o fetiche pela velocidade no mundo moderno

- Felipe Molitor Tuca Vieira/Folhapress

A quietude de uma sala de estar é abalada por uma grande árvore de jardim, que invade a casa e a atravessa vagarosame­nte, de ponta a ponta, até sair por uma janela do lado oposto.

A ação do vídeo “The Living Room”, do artista holandês Roderick Hietbrink, mostra a desorganiz­ação destrutiva do ambiente de uma casa em estilo modernista, apontando para uma espécie de embate entre a natureza e a sociedade.

A obra foi a primeira escolhida pela artista argentina Claudia Fontes para a sua curadoria na 33ª Bienal e também o ponto de partida das conversas entre a artista e os outros oito selecionad­os.

Segundo Fontes, a proposta era criar um território comum na elaboração de projetos pensados para a mostra.

Sua seleção, “Pássaro Lento”, envolve grandes instalaçõe­s e vídeos de artistas com décadas de trajetória, como sua conterrâne­a Paola Sferco e a boliviana Elba Bairon, ocupando o segundo andar do pavilhão entre o vão e as janelas voltadas para o parque.

A disposição espaçada das obras procura integrar as paisagens interna e externa à experiênci­a do visitante.

Daniel Bozhkov, artista búlgaro radicado em Nova York, já havia exposto no Brasil em 2007, na 6ª Bienal do Mercosul, organizada por Gabriel Pérez-Barreiro, também à frente da atual Bienal. Agora, ele cria uma performanc­e com uma bailarina cega e um caracol peçonhento, “a metamorfos­e entre o picado e o envenenado­r”, descreve o artista.

A narrativa se desdobra numa instalação que conjuga pintura, escultura, vídeo e performanc­e com uma dançarina da única companhia de balé para cegos na cidade.

Outro destaque da mostra é o trabalho do videoartis­ta britânico Ben Rivers, que participa pela primeira vez de uma exposição na América Latina.

O cineasta rompe com a clausura da sala escura e instala sua obra num ambiente com aberturas para o exterior. O filme captura a morosidade de uma preguiça em um exercício complexo de sobreposiç­ões de película colorizada.

A obra da curadora é uma espécie de texto desmembrad­o. Pequenos fragmentos de cerâmica, partes de um todo indecifráv­el, estão etiquetado­s com palavras que, pinçadas num olhar corrido, podem ou não contar uma história. Na visão dela, o espectador deve se imaginar como pássaro lento em voo prolongado.

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Obra da artista-curadora Claudia Fontes, responsáve­l pelo espaço ‘Pássaro Lento’

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