Folha de S.Paulo

Sueca Mamma Andersson cria um espaço que dialoga com ideia da melancolia

- Isabella Menon

Em uma noite estrelada, uma mulher só de roupas íntimas parece caminhar sobre a superfície do mar. Essa cena está retratada num quadro de Mamma Andersson, artista contemporâ­nea sueca, que está à frente de uma das mostras na atual Bienal.

Ao lado do também artista-curador Waltercio Caldas, Mamma propõe um cenário completame­nte contrário aos traços minimalist­as do vizinho. Para isso, ela traz uma seleção de nomes que inspiram a sua produção baseada na figuração expression­ista.

Escalada pelo espanhol Gabriel Pérez-Barreiro, Mamma Andersson apresenta uma série de pinturas, mas conta ainda com relicários russos, esculturas e videoinsta­lações.

A parte organizada por ela leva o nome de “Stargazer II” . A artista diz que a escolha do título vem de um “lindo nome para uma espécie feia de peixe, que vive no fundo do oceano e navega seguindo as estrelas”. Ela diz, aliás, que se identifica com o bicho —“é como eu dentro do ateliê”.

Mamma, na verdade, é como Karen Andersson ficou conhecida no mundo das galerias e museus. Reconhecid­a como uma das mais importante­s artistas suecas, seu trabalho se constrói a partir de cenas e espaços de grande tensão.

Antes da Bienal, suas pinturas estiveram no mesmo pavilhão do Ibirapuera em abril deste ano, porém, para fins comerciais, na SP-Arte. Suas obras foram levadas pela galeria nova-iorquina David Zwirner e pela londrina Stephen Friedman.

Agora, no papel de curadora, ela convocou artistas em sua maioria suecos. Um americano entrou na lista e Andersson selecionou também obras de russos do século 15. “Para este trabalho foi importante encontrar artistas que dialogasse­m com as minhas próprias obras”, disse.

Sobre suas escolhas, ela acrescenta que o que a fascina na obra desses artistas tem a ver com a honestidad­e que demonstram. “Todos escolheram seus próprios destinos sem grandes atitudes e presunções”, afirma. “Todos eles me inspiraram durante a minha carreira.”

Entre os suecos, estão Dick Bengtsson, conhecido por pinturas de prédios que denunciam autoritari­smo e poder. Há ainda trabalhos da cineasta Gunvor Nelson, que fala sobre infância e memória.

O único americano presente em sua seleção é Henry Darger, morto em 1973, aos 81 anos. O artista levou uma vida reclusa em Chicago, onde trabalhava como zelador de um hospital e teve as obras descoberta­s pouco antes de morrer. Suas pinturas mostram paisagens habitadas por crianças e seres fantástico­s.

Mamma Andersson, que acredita que uma pintura é algo “sem momento e nem fim”, pretende refletir sobre a melancolia e a introspecç­ão no espaço idealizado por ela para os três meses da Bienal.

Interessad­a em figuração, a curadora diz que essa nem sempre foi sua fixação e mostra que tem um gosto variado. Entre suas artistas favoritas ela elege a conterrâne­a Hilma af Klint, reconhecid­a como uma das pioneiras do abstracion­ismo, estilo diferente do que é apresentad­o por Mamma nesta Bienal.

33ª Bienal de São Paulo

Pavilhão da Bienal, av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, pq. Ibirapuera, portão 3. A partir de sexta-feira (7). Até 9/12. Ter. a dom. e feriados: 9h às 19h. Qui. e sáb.: até as 22h. Grátis.

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