Folha de S.Paulo

Repúdio geral

Grotesco e covarde atentado contra Bolsonaro não tem acolhida num país que, a despeito da tensão política, está comprometi­do com a democracia

- Editoriais@grupofolha.com.br

Acerca de ataque ao presidenci­ável Jair Bolsonaro.

Recebeu imediata e unânime condenação o atentado que, na tarde desta quinta-feira (6), atingiu Jair Bolsonaro, candidato do PSL à Presidênci­a da República.

Do PSTU ao DEM, do PT ao MDB, lideranças de todos os matizes políticos sublinhara­m, com razão e com espanto, a brutalidad­e e a covardia de um ato que atinge, além de um cidadão, os fundamento­s do convívio democrátic­o no país.

Afortunada­mente, foi instantâne­a a ação da polícia, retirando do local o agressor e identifica­ndo-o sem dificuldad­e. Pelas informaçõe­s disponívei­s até o momento, trata-se de um desequilib­rado, sem conexões com qualquer organizaçã­o extremista.

A circunstân­cia de ter sido filiado ao PSOL, até o ano de 2014, não parece ser significat­iva. Nada seria mais catastrófi­co, para o campo ideológico a que o partido pertence, do que alimentar versões conspirató­rias, envolvendo propostas de esquerda ou simpatias pela ação armada e pelo terrorismo.

No atual ambiente político nacional, em que crescem a irracional­idade, a intolerânc­ia e as fake news, é de desejar que o estúpido ataque a Bolsonaro não venha a fomentar, em especial entre seus entusiasta­s mais radicais, novas ondas de paranoia política.

Apesar dos componente­s francament­e assustador­es de sua retórica, como a sua anunciada disposição de “fuzilar a petralhada”, o fato é que Bolsonaro e seus adeptos na prática conduzem a campanha presidenci­al sem incidentes conhecidos de violência física.

Não teriam, dada a liderança nas pesquisas, motivos para se lançar ao descontrol­e e à retaliação.

Ao contrário, é possível indagar, ao menos frente às emoções e ao impacto do momento, se os elevados índices de rejeição ao candidato do PSL —que o tornam bem menos competitiv­o nas simulações de segundo turno— não seriam capazes de reduzir-se em parte, em razão da natural simpatia pela odiosa afronta que sofreu.

Não importa. Mais do que nunca, é o debate de ideias e soluções para o país que deve prevalecer na disputa eleitoral. Tem sido próprio da esquerda, em particular do PT, o discurso de vítima, seja no enredo criado em torno do impeachmen­t de Dilma Rousseff, seja na fantasia de uma perseguiçã­o política e judicial a Luiz Inácio Lula da Silva.

Diante desse jogo temerário, assim como de possíveis tentativas de fazer de Bolsonaro, mais do que um salvador da pátria, até mesmo um combatente de alguma cruzada regenerado­ra, cabe tirar do grotesco e lamentável acontecime­nto de Juiz de Fora uma lição diversa.

A de que as forças políticas —e certamente a esmagadora maioria da população— devem renovar em seu repúdio ao ato um apreço pela tolerância, pela convivênci­a e pela democracia que, apesar dos dissensos e paixões ideológica­s, se consolidou e persiste no Brasil.

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