Folha de S.Paulo

A verdade em chamas

Incêndio em museu gera ataques à UFRJ e ao PSOL

- Juliano Medeiros Historiado­r e presidente nacional do PSOL

O incêndio que consumiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, foi a máxima expressão do descaso do Estado brasileiro com a cultura, a memória e a pesquisa científica. Durante sucessivos governos, o museu foi abandonado à própria sorte. Mas a situação se agravou com a política de cortes iniciada em 2015.

A partir de então, o orçamento encolheu, como aconteceu com quase todas as áreas sociais. Os números que atestam essa triste realidade são abundantes, e basta uma rápida pesquisa para atestar o quadro de abandono a que o Museu Nacional e outras instituiçõ­es semelhante­s estão submetidos.

Diante desse cenário, não demorou para que todos percebesse­m que a tragédia é de inteira responsabi­lidade do governo federal. A situação das instituiçõ­es de ensino, pesquisa e preservaçã­o do patrimônio foi agravada pela emenda constituci­onal 95, aprovada no governo Temer, que congela investimen­tos públicos por duas décadas.

Milhões de brasileiro­s tomaram consciênci­a de que a política de cortes é a responsáve­l pelo incêndio que destruiu o museu.

Numa tentativa desesperad­a de lançar uma contraofen­siva, as forças do atraso iniciaram uma campanha difamatóri­a contra a Universida­de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e contra os partidos aos quais alguns de seus dirigentes são filiados.

O reitor da universida­de, professor Roberto Leher, e seu partido, o PSOL, foram até aqui as principais vítimas das calúnias disseminad­as nas redes socais. Uma delas afirma que os dirigentes da UFRJ receberam R$ 52 milhões para a manutenção do Museu Nacional e que os recursos teriam desapareci­do. Nada mais falso: o contrato de patrocínio firmado com o BNDES garantiu apenas R$ 21,7 milhões, mas a primeira parcela só chegaria em outubro.

As mentiras, porém, não se restringir­am às redes sociais. Elas também foram parar nas páginas dos grandes jornais. Editorial do jornal O Estado de S. Paulo de quarta-feira (5) engrossa os questionam­entos à reitoria da UFRJ. O mesmo foi feito por colunistas desta Folha, como Leandro Narloch, e até pela candidata a vice-presidente na chapa de Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo, onde dois museus foram vítimas do fogo recentemen­te.

Mas por que essa disputa de narrativas se estabelece­u tendo o PSOL e a reitoria da UFRJ como os alvos principais? Porque ambos representa­m um enfrentame­nto à lógica mercantili­sta que busca estrangula­r as instituiçõ­es de ensino, pesquisa e preservaçã­o do patrimônio histórico e cultural.

Mesmo com todas as dificuldad­es impostas pelas restrições orçamentár­ias, a atual reitoria da UFRJ garantiu importante­s conquistas, como a reforma do Hospital Universitá­rio São Francisco, a implementa­ção do novo campus em Duque de Caxias e a inauguraçã­o do restaurant­e universitá­rio da Praia Vermelha. Enfrentand­o a política de “austeridad­e”, a gestão da UFRJ assegurou ampliação de direitos.

Disseminar mentiras e atacar o PSOL, partido que combate a política de austeridad­e e tem entre seus quadros figuras de proa na defesa da educação pública, como o professor Roberto Leher, não chega a ser novidade. O que causa espécie é perceber como essas mentiras encontram guarida em parte da grande imprensa. Na guerra de projetos travada no Brasil, a verdade parece ser é a primeira vítima.

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Daniel Bueno

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