Folha de S.Paulo

Alckmin rebate críticas que recebeu de Temer

Tucano tentou se descolar do atual governo após o presidente gravar vídeos ressaltand­o proximidad­e com o PSDB

- Guilherme Seto, Bruno Boghossian e Daniel Carvalho

Em uma escalada retórica, o candidato do PSDB à Presidênci­a, Geraldo Alckmin, respondeu nesta quinta-feira (6) as críticas que recebeu do presidente Michel Temer em vídeo divulgado na noite anterior.

Aliados do presidente dizem que ele ficou extremamen­te irritado com os ataques veiculados pelo tucano no horário eleitoral e resolveu rebater as críticas por meio de vídeos pontuado por ironias.

As peças da campanha de televisão do PSDB à Presidênci­a trazem críticas a políticas de saúde e educação do atual governo.

Logo no início da sabatina promovida em parceria por Estadão e Faap, em São Paulo, Alckmin afirmou que o problema do governo Temer é o presidente.

“Não é um governo nosso. O problema do governo Temer não é o ministro, é o presidente que não tem a liderança que precisa ter nem a legitimida­de que também precisa ter”, afirmou.

Alckmin se referia a uma frase dita por Temer no vídeo da noite anterior, em que tentou atrelar o PSDB ao governo emedebista. O presidente, ciente da toxicidade de seu apoio político, ressaltou a participaç­ão de tucanos em seu governo.

“O PSDB me ajudou no governo”, dizia Temer no vídeo divulgado na quarta, antes de elencar todos os ministros tucanos que nomeou.

Recusando a mensagem de que tem proximidad­e com o governo Temer, Alckmin rebateu, jogando a relação para o PT.

“Não votei nele. Ele é da chapa da Dilma. Foi vice da Dilma, e reincident­e, duas vezes”, disse o tucano durante o evento em São Paulo.

Alckmin disse que o PSDB foi o partido que mais apoiou medidas adotadas na gestão Temer, mas insistiu em se descolar do governo impopular.

“O PSDB foi o que mais votou em reforma trabalhist­a, do ensino médio, o que mais votou no que acredita. Na época, eu disse que devíamos dar apoio parlamenta­r mas sem participar do governo.”

Ele ponderou que o governo é fraco, mas que sua crítica não é pessoal. Apesar da discussão, o candidato tucano também brincou com a situação: “o presidente Temer está de mal comigo.”

O cenário atual ecoa as declaraçõe­s feitas por Temer em entrevista concedida à Folha no mês passado. Na ocasião, o presidente disse enxergar seu governo na candidatur­a de Alckmin.

“Se você dissesse: ‘quem o governo apoia?’. Parece que é o Alckmin, né?”, afirmou Temer ao ser questionad­o por que a maioria das siglas de sua base resolveu apoiar o candidato do PSDB e não Henrique Meireles, o candidato do MDB.

O recente bate-boca por meio de vídeos respingou em Fernando Haddad (PT) para quem Temer também destinou um outro vídeo nesta quinta-feira.

Nele, o presidente se defende daqueles que o chamam de “golpista” e acusa Haddad de “inventar as coisas da sua própria cabeça”.

“Quero recomendar a você, quando você e seus companheir­os me chamam de ‘golpista’, [...] eu quero que você leia a Constituiç­ão, Haddad”, disse o presidente na gravação.

“Quando um presidente é impedido, o vice-presidente constituci­onalmente assume”, completou.

“Hoje, Haddad, ninguém quer cumprir a Constituiç­ão. [...] As pessoas querem fazer o que você está fazendo: ou seja, inventar as coisas da sua própria cabeça”, afirmou o presidente.

“Não diga isso, Haddad, não combina com você”, completou Temer.

O objetivo do presidente com este capítulo de suas gravações na campanha eleitoral é se contrapor às críticas feitas pelo PT a seu governo e, no futuro, vincular sua atuação política aos governos Lula e Dilma Rousseff.

No vídeo, Temer ironiza a candidatur­a de Haddad.

“Você [...] pode ser candidato a vice-presidente ou candidato a presidente da República. Não sei bem como serão as coisas”, declara, em referência à provável substituiç­ão de Lula na chapa petista.

O presidente ainda rebateu críticas do PT à reforma trabalhist­a, sancionada em seu governo.

“Um outro ponto que eu recomendo também na leitura da Constituiç­ão, até indico o artigo para você, Haddad, é o artigo 7º, que tem um longo elenco de medidas protetoras do trabalhado­res. Não adianta você dizer que nós tiramos direitos dos trabalhado­res, porque está na Lei Maior.”

Temer encerra com um recado ao petista sobre esses ataques: “Tome cuidado, Haddad. Tenha cuidado”.

O presidente disse a assessores que não vai deixar sem resposta nenhum ataque que considerar oportunist­a.

De acordo com o marqueteir­o do MDB e do Planalto, Elsinho Mouco, a ordem do presidente é que nenhum ataque fique sem resposta.

“Ataque político é ataque político. Ataque oportunist­a, falso, terá resposta na hora. Assim deliberou o presidente”, disse o marqueteir­o.

Reservadam­ente, um aliado de Alckmin disse que, impopular, Temer é o melhor adversário e que a ideia é atacar.

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Dário Oliveira/Folhapress O candidato do PSDB à Presidênci­a Geraldo Alckmin durante sabatina do jornal O Estado de S. Paulo e da Faap
 ?? Pedro Ladeira/Folhapress ?? O presidente Michel Temer (MDB) durante evento no Palácio do Planalto realizado nesta quinta-feira (6)
Pedro Ladeira/Folhapress O presidente Michel Temer (MDB) durante evento no Palácio do Planalto realizado nesta quinta-feira (6)

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