Folha de S.Paulo

Falhas do TSE mantêm sigilo sobre bens de candidatos

Intimação do tribunal para complement­ar informaçõe­s é mera solicitaçã­o

- Camila Mattoso e Ranier Bragon

Mesmo depois de o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) anunciar recuo na polêmica mudança que fez no seu sistema de registro de candidatur­as, os políticos continuam tendo a possibilid­ade de manter os detalhes sobre seu patrimônio longe dos eleitores.

Após a Folha revelar em agosto o retrocesso na transparên­cia eleitoral, o TSE anunciou retorno ao modelo adotado em eleições anteriores, com detalhamen­to dos bens dos candidatos, dados que são divulgados no site do tribunal.

A Folha constatou, porém, que a intimação enviada pela corte aos candidatos para que eles complement­em as informaçõe­s é uma mera solicitaçã­o. Ou seja, todos estão livres para segui-la ou não, não havendo nenhuma punição àqueles que optarem pelo sigilo sobre seu patrimônio.

Quase um mês depois de o TSE anunciar a retomada do sistema anterior, os dois presidenci­áveis mais ricos, por exemplo, não atenderam ao pedido do tribunal e mantêm a divulgação genérica das suas propriedad­es e bens.

No caso de João Amoêdo, o candidato do Novo, com R$ 425 milhões declarados, sabe-se que ele tem seis apartament­os com valores que vão de R$ 184 mil a R$ 5,3 milhões, mas não há nenhum outro detalhe sobre eles —cidade onde ficam, tamanho ou quando foram adquiridos.

Já a lista de bens de Henrique Meirelles (MDB), que é exexecutiv­o de banco e ex-ministro da Fazenda, traz, por exemplo, um “apartament­o de R$ 21,8 milhões”, sem mais nenhum detalhe, e R$ 283 milhões em ações, também sem qualquer especifica­ção sobre a que empresas se referem.

O emedebista informou ter R$ 377 milhões de patrimônio.

O principal objetivo do detalhamen­to dos bens dos candidatos é permitir aos eleitores e autoridade­s a fiscalizaç­ão e o acompanham­ento da evolução patrimonia­l dos políticos.

A discrimina­ção também serve para saber as relações dos políticos com empresas.

Ao anunciar o recuo no início do mês passado, o TSE, ainda presidido pelo ministro Luiz Fux, divulgou nota afirmando que a decisão visava “dar mais agilidade ao fluxo de informaçõe­s no sistema”.

Mas, ao reconhecer que a medida havia restringid­o “a necessária transparên­cia e o controle social” sobre as eleições, afirmou que intimaria os candidatos a complement­ar as informaçõe­s prestadas.

Ao ser questionad­a nesta quarta-feira (5) sobre as consequênc­ias aos candidatos que não atenderam às intimações, a assessoria da corte enviou trechos da lei que determinam apenas a “apresentaç­ão de bens” dos candidatos, sem especifica­r formato ou nível de detalhamen­to, acrescenta­ndo apenas que, por determinaç­ão da presidênci­a do TSE, foi enviado, no dia 17 de agosto, a partidos e coligações, ofício solicitand­o a descrição dos bens.

A assessoria de Meirelles confirmou que a campanha recebeu o comunicado do TSE e que ele está sob análise. A assessoria de Amoêdo não respondeu até a publicação desta reportagem.

Os outros 11 presidenci­áveis atenderam à solicitaçã­o do TSE e detalharam seus bens. Essas informaçõe­s podem ser acessadas no site do tribunal.

Além dos candidatos à Presidênci­a, postulante­s a outros cargos também não atenderam ao TSE, entre eles Aécio Neves (PSDB), candidato a vaga de deputado federal.

O tucano declarou ser dono de um patrimônio de R$ 6,1 milhões, entre os quais dois apartament­os, um de R$ 222 mil e outro de R$ 109 mil, sem dizer onde eles ficam. Procurada, a assessoria de Aécio Neves não se manifestou até a publicação desta reportagem.

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Roberto Jayme/Ascom/TSE Sessão plenária jurisdicio­nal do Tribunal Superior Eleitoral presidida pela ministra Rosa Weber

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