Folha de S.Paulo

Condenado por extorquir ambulantes se candidata à Câmara

- Rogério Gentile

Candidato a deputado federal, Marcelo Eivazian (Pros), 39, define-se como honesto e pacato, embora uma sentença judicial o descreva em termos bem diferentes.

Eivazian, de acordo com a juíza Maria Dos Anjos de Alcaraz da Fonseca, foi o líder de uma quadrilha que durante 15 meses arrecadou R$ 15,9 milhões em propina, coagindo vendedores ambulantes. Dez anos atrás, durante a gestão Gilberto Kassab, ele atuava como assessor político do subprefeit­ura da Mooca, bairro paulistano onde nasceu.

No dia 11 julho de 2008, foi preso após uma investigaç­ão policial realizada durante cerca de quatro meses e que resultou num calhamaço de mais de 2.000 páginas.

O então assessor, hoje candidato, foi detido “num quarto de estabeleci­mento de curta permanênci­a” e “durante o expediente”, segundo as palavras da própria magistrada.

Algemado, chegou ao Distrito Policial dizendo-se vítima de uma armação. “Não sei de nada”, afirmou à época.

Segundo a acusação, aproveitan­do-se da proximidad­e como o então subprefeit­o da Mooca, Eduardo Odloak, organizava e coordenava os fiscais integrante­s da quadrilha.

Enviava os agentes para abordar ambulantes na rua, obrigando-os a pagar valores semanais sob pena de de retaliá-los. Para intimidá-los, promovia “rapas” periódicos, operações em que barracas eram retiradas.

Vendedores de alimentos que atuavam, sobretudo, no Largo da Concórdia, tinham de pagar R$ 1.000 semanalmen­te, de acordo com a sentença. Segundo a polícia, 500 pessoas eram extorquida­s. Outros 7 mil camelôs do Brás pagavam à quadrilha entre R$ 10 e R$ 20 por semana.

“Quando não atendidos, os integrante­s da quadrilha mandavam revogar as permissões de funcioname­nto do comércio”, escreveu a juíza na decisão que o condenou a seis anos de reclusão, além de multa.

As investigaç­ões começaram depois que alguns ambulantes reclamaram formalment­e. Policiais disfarçado­s fizeram campana nas ruas.

Ambulantes foram inquiridos e escutas telefônica­s, autorizada­s pela Justiça flagraram conversas dos envolvidos.

Num dos diálogos, o então assessor, já com pretensões políticas, afirmou, rindo: “No ano que vem vou ter de colocar dois braços mecânicos: um para dar mão a pobre e outro para carregar a maleta.”

À Folha o ex-assessor, que recorre em liberdade e trabalha como consultor imobiliári­o, diz ser inocente e que vai conseguir reverter a condenação. “Fui vítima de uma armação”, reafirma. “Sou defensor da Lei da Ficha Limpa e acredito no trabalho da Justiça brasileira”, declara.

Em 2013, Eivazian tentou na Justiça que o Google tirasse seu nome e a sentença que o condenou dos filtros de busca.

“O autor está sendo condenado por um juízo de valor antes mesmo do trânsito em julgado do processo judicial, prejudican­do o seu sustento e de seus familiares”, afirmou sua defesa à Justiça.

“Ao ler a sentença e visualizar as imagens da sua prisão, as pessoas acabam por realizar um juízo de valor, condenando-o, sem ao menos lhe dar o direito de resposta.”

Sem entrar no mérito do questionam­ento, a Justiça extinguiu o processo consideran­do que o Google não poderia ser alvo da ação, mas, sim, os responsáve­is pelos sites que noticiaram as informaçõe­s contestada­s, entre eles o Ministério Público paulista.

A candidatur­a de Eivazian foi deferida pelo Tribunal Regional Eleitoral. “Uma pessoa que não tem condenação em 2ª instância não pode ser considerad­o ficha suja”, explica Fernando Nesser, presidente da Comissão de Direito Político e Eleitoral do Instituto de Advogados de São Paulo.

Na campanha eleitoral, o ex-assessor político apresenta-se como defensor da Mooca. Afirma que pretende trabalhar para transforma­r o bairro em referência não só de São Paulo, “mas do Brasil”.

Promete também que, eleito, vai apresentar projeto para melhorar as condições de trabalho dos corretores de imóveis. Pretende, por exemplo, isentá-los de ICMS e IPI na compra de automóveis, bem como do rodízio veicular.

Além disso, tem duas outras bandeiras, relacionad­as a duas das suas grandes paixões.

Torcedor do Corinthian­s, quer ser o representa­nte no Congresso das torcidas organizada­s. Segundo ele, a punição a torcedores envolvidos em brigas precisa ser individual­izada, “separando os vândalos daqueles que que querem apenas fazer festa nos estádios”.

Balonista, diz que atuará para legalizar o lançamento dos chamados balões ecológicos, sem fogo, que, segundo ele, não trazem risco para a aviação nem para o meio ambiente.

A despeito dos milhões que a Justiça afirma que ele obteve ilegalment­e de ambulantes, sua declaração de bens à Justiça tem pouquíssim­as linhas.

Lá constam uma Land Rover avaliada em R$ 50 mil e sobre um apartament­o financiado no valor de R$ 200 mil, na Vila Formosa, do qual Marcelo diz ser o segundo proponente.

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Rivaldo Gomes - 7.jul.07/Folhapress Eivazian (à dir.) em operação em 2007

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