Procuradora de Nova York que investiga abusos infantis intima dioceses católicas
A procuradora-geral de Nova York, Barbara Underwood, intimou nesta quinta (6) as oito dioceses católicas do estado em um processo que investiga o acobertamento de abusos sexuais cometidos por padres, bispos e outros líderes da Igreja.
A intimação tem como alvo documentos relacionados a acusações de abuso, ao suborno de vítimas ou a descobertas em investigações conduzidas internamente pela Igreja.
“O relatório do grande júri da Pensilvânia jogou luz sobre os atos perturbadores e depravados dos clérigos católicos, auxiliados por uma cultura de segredos e acobertamento nas dioceses”, afirmou Underwood em comunicado.
“As vítimas de Nova York merecem ser ouvidas também, e nós vamos fazer tudo a nosso alcance para trazer a elas a justiça que merecem.”
A decisão foi anunciada quase um mês depois que a Suprema Corte da Pensilvânia divulgou um relatório no qual acusa 301 “padres predadores” de abuso sexual contra mais de mil menores, em crimes acobertados ao longo sete décadas pela Igreja Católica.
Segundo o procurador do estado, Josh Shapiro, há evidências de que o Vaticano tinha conhecimento dos abusos, embora não se possa dizer que o papa Francisco estivesse ciente do acobertamento.
Nesta quinta, a procuradora Underwood afirmou que foi aberta uma investigação envolvendo as dioceses. Em Nova York, a Procuradoria-Geral não pode reunir um grande júri (responsável por deliberar, antes de haver julgamento, se a acusação procede), e precisará trabalhar com procuradores distritais locais.
Um porta-voz da arquidiocese de Nova York afirmou que “não foi surpresa” a abertura do inquérito e disse que a arquidiocese e as demais dioceses do estado estavam “prontas e dispostas” a cooperar.
A procuradora de Nova Jersey, Gurbir S. Grewal, também anunciou a criação de uma força-tarefa para investigar os casos de abuso sexual. “Eu fiquei profundamente perturbada ao ler as alegações contidas no relatório do grande júri da Pensilvânia no mês passado”, afirmou.
Nova York e Nova Jersey também disponibilizaram uma linha de telefone e um formulário online para receber declarações de vítimas ou testemunhas de abusos cometidos por padres nos estados.
Nas três semanas desde que o relatório foi publicado, procuradorias de Illinois, Missouri e Nebraska anunciaram a intenção de investigar abusos sexuais cometidos por padres.
O relatório, de quase 1.360 páginas, detalha como os clérigos tinham um padrão semelhante para lidar com os casos. O documento compila oito estratégias. A principal delas era não avisar à polícia.
Em viagem recente à Irlanda, o papa Francisco afirmou que a corrupção e o acobertamento desse tipo de crime são como “caca”. O pontífice está sob forte pressão desde que os casos vieram à tona, especialmente após o arcebispo Carlo Viganò, ex-embaixador do Vaticano nos EUA, acusálo, em 26 de agosto, de saber dos abusos e acobertá-los. O papa tem se mantido silente diante das acusações.