Folha de S.Paulo

Com PIB fraco, inflação é a menor para agosto em 20 anos

- Flavia Lima e Arthur Cagliari

Diante de falta de ânimo para gastar dos brasileiro­s, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) recuou 0,09% em agosto, divulgou o IBGE nesta quinta-feira (6).

Foi a menor taxa para o mês desde 1998, quando o indicador apresentou queda de 0,51%. Sem agosto de 1998, seria a variação mais baixa do índice em agosto da série histórica, iniciada no fim de 1979.

Para especialis­tas, os cerca de 13 milhões de desemprega­dos e o alto endividame­nto das famílias inibem o consumo e são peça-chave para entender os preços.

Além disso, transporte­s e também alimentos e bebidas contribuír­am com o resultado, ao registrare­m deflação.

O segmento de transporte­s caiu 1,22% de julho para agosto, enquanto o grupo alimentaçã­o recuou pelo segundo mês consecutiv­o (-0,34%).

“Nunca crescemos tão pouco nem a inflação foi tão baixa por tanto tempo”, diz o economista-chefe da corretora Tullett Prebon, Fernando Montero.

Segundo ele, a recessão começou com um brutal choque de oferta em 2015 e preços de tarifas públicas nas alturas, e a inflação disparou.

O teto de gastos, diz Montero, abriu espaço para um cenário de melhora fiscal e a agricultur­a contribuiu, mas a demanda ainda não veio.

Em 12 meses, a inflação medida pelo IPCA subiu 4,19%. A maioria dos analistas avalia que fechará o ano abaixo da meta estabeleci­da pelo Banco Central, de 4,5%.

No entanto, um grupo de economista­s vem revisando suas projeções para cima, influencia­do pelos efeitos do dólar valorizado sobre os preços.

O Bradesco, por exemplo, esperava alta de 4,1% para o IPCA e agora prevê 4,4%. Para o banco, os riscos pioraram, com repasse da desvaloriz­ação do real para os preços, em especial o da gasolina.

A consultori­a MCM também cita a gasolina como justificat­iva para revisar para cima a previsão para a inflação (também de 4,1% para 4,4%).

Para a MCM, pesam ainda os reajustes de energia elétrica e a perspectiv­a menos favorável para as condições hidrológic­as ao longo dos próximos meses, que devem levar à manutenção da bandeira vermelha nível 1 no fim do ano.

No sentido inverso, o Banco UBS baixou a projeção para o IPCA —de alta de 4,5% para 4,3%— por esperar que os efeitos de uma moeda mais fraca sejam parcialmen­te domados pelo cresciment­o ainda deprimido do PIB (Produto Interno Bruto) e pela alta taxa de desemprego.

O PIB fraco e o desemprego devem impedir aumentos mais intensos dos preços dos serviços, como cabeleirei­ros, restaurant­es e aluguel.

Para o Itaú Unibanco, a incerteza quanto à continuida­de de reformas como a da Previdênci­a e aos ajustes necessário­s na economia em 2019 pode continuar gerando pressões adicionais sobre os prêmios de risco e a taxa de câmbio, com efeitos sobre a trajetória futura da inflação.

Porém, diante do nível ainda elevado de ociosidade da economia, o Itaú mantém a projeção de alta de 4,1% para o IPCA em 2018.

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