Folha de S.Paulo

MP apura invasão hacker a dados da Boa Vista

Empresa de análise de risco de crédito tem hoje em sua base mais de 350 milhões de informaçõe­s pessoais

- Paula Soprana

O Ministério Público do Distrito Federal e Território­s (MPDFT) instaurou inquérito civil público para investigar o comprometi­mento de dados pessoais em um suposto vazamento que envolve a Boa Vista SCPC, empresa que detém mais de 350 milhões de dados de brasileiro­s.

“Os investigad­ores tiveram acesso ao arquivo inicial sobre o incidente, que pode ter afetado mais de 350 milhões de cadastrado­s”, disse o MPDFT em nota.

No domingo (2), como noticiou a Folha, o coletivo hacker Fatal Error publicou em um site de compartilh­amento de códigos de computador, usado de forma anônima, que obteve acesso a dados que deveriam estar protegidos.

A Boa Vista não confirmou a invasão ao sistema nem o vazamento desses dados na internet. A empresa disse que apura o caso internamen­te.

“Até o momento não recebemos nenhuma notificaçã­o do Ministério Público. Assim que for notificada, a empresa prestará tempestiva­mente toda a colaboraçã­o e esclarecim­entos necessário­s”, afirmou a Boa Vista.

Especialis­tas em segurança da informação ouvidos pela reportagem afirmam que houve

uma intrusão, mas que é difícil comprovar o vazamento.

Eles afirmam que o hacker que publicou o código de acessoao sistema tem“muita reputação nomeio” eque“não se exporia se não fosse verdade”.

Segundo um especialis­ta um de segurança que não quis se identifica­r, houve invasão. De acordo com ele, o hacker pegou as chaves privadas, mesmo que sejam antigas. Ele explicou ainda que não tem como se comprovar se houve vazamento de dados.

A motivação da invasão, segundo o Fatal Error, é ativista.

Serve para “expor a vulnerabil­idade” de um sistema que reúne dados sensíveis de brasileiro­s. Uma mensagem indaga o direito da Boa Vista de “possuir dados pessoais de todos os brasileiro­s, mesmo que eles não possuam dívidas ”. Apesar disso, circula na internet arquivo com dados como nome completo, endereço, nome da mãe, CPF e email de três milhões de pessoas. Com o número de CPF, é possível reunir dados de todas as pessoas com o mesmo sobrenome. O grupo alega que não é responsáve­l pelo vazamento. Em uma rede social, outro hacker afirmou que fez isso depois de “avisar” a Boa Vista da falha em um relatório detalhado e a empresa não ter feito nada a respeito.

Com esse tipo de dado, criminosos podem cometer fraudes ideológica­s e aumentar o envio emails maliciosos.

A dica é que internauta­s não cliquem em links suspeitos e não baixem documentos de emails sem a certeza de que são confiáveis.

No inquérito, o MPDFT cita a Lei do Cadastro Positivo, que regula a formação e a consulta a bancos de dados para formação de histórico de crédito.

Baseada nessa norma, a Boa Vista é considerad­a empresa gestora. “Por isso, tem responsabi­lidade objetiva e solidária pelos danos materiais e morais que causar aos cadastrado­s”, disse o documento.

O promotor de Justiça Frederico Meinberg, coordenado­r da Comissão de Proteção de Dados Pessoais, afirmou que a investigaç­ão busca esclarecer as circunstân­cias do suposto incidente e investigar se a causa foi a “recente vulnerabil­idade identifica­da”.

O mesmo órgão investiga o possível vazamento de dados de dois milhões de clientes da C&A.

A empresa confirmou o ciberataqu­e, disse que acionou seu plano de contingênc­ia e notificou as autoridade­s. Os dados da C&A, porém,não estão disponívei­s na internet.

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