“Você ia ao museu e sentia o clima de decadência”
“O povo já é sofrido, não tem escolas, não tem saúde, não tem emprego. E agora acabaram com o passado”, disse o artista Antonio Manuel 2 durante o almoço promovido pela fundadora do Instituto Inclusartiz, Frances Reynolds 1 , por conta da 33ª Bienal de SP, no restaurante Figueira Rubaiyat.
O artista falou à coluna sobre o incêndio do Museu Nacional.
“Não são só 200 anos [de história], são milhares. É um lugar que eu frequentei desde criança, onde levei meus filhos. Eu matei muitas aulas lá.
A responsabilidade é política, de quem não tem um mínimo de cuidado com a cultura, com a sua arte e com o seu povo. É revoltante e muito triste. Eu estou emocionado, me desculpe.
Há 15 anos eu tentava chamar a atenção para a situação [do museu]. Você ia lá e sentia o clima de decadência porque não tinha verbas. O que eu podia fazer, que era o mínimo, era alertar as pessoas.
A gente perde um passado irrecuperável. Eu gosto da ideia do [antropólogo Eduardo] Viveiros de Castro. Ele propõe que não se mexa nas cinzas e que se façam passarelas internas para que as pessoas vejam o que restou. Para que nunca mais aconteça uma coisa dessas.
A cultura no Brasil corre riscos muito sérios de abandono [por causa de] governos, os crápulas sem visão humana, sem nenhuma perspectiva com a cultura e seu povo. Infelizmente essas pessoas não servem, elas só visam o lucro, o lucro, o lucro”.
A artista Beatriz Milhazes 3, o colecionador Pedro Barbosa 1 e o produtor Emilio Kalil 4 também passaram por lá.