Folha de S.Paulo

Bolsonaro migrará sua campanha para as redes

Em recuperaçã­o, presidenci­ável deve gravar mais vídeos para a internet; aliados manterão ações nas ruas

- Talita Fernandes e Guilherme Seto Ricardo Moraes/Reuters

Impossibil­itado de fazer atos públicos após ter sido esfaqueado na quinta (6), o presidenci­ável Jair Bolsonaro (PSL) deve usar as redes sociais para se dirigir a eleitores nos próximos 30 dias.

Menos de 24 horas após o atentado, o deputado federal recorreu à internet para enviar uma mensagem: “Estou bem e me recuperand­o”.

Como a internação pode durar ao menos dez dias, outros assumirão a dianteira nas ruas. Já foram escalados dois de seus filhos, Flavio e Eduardo. O vice da chapa, general Hamilton Mourão (PRTB), também deve assumir algumas agendas.

Antes do ataque, Bolsonaro pretendia intensific­ar participaç­ão em comícios, passeatas e visitas, para tentar melhorar suas intenções de voto no segundo turno.

A campanha do presidenci­ável também terá de definir nova estratégia para entrevista­s e debates. A escolha de um único representa­nte ou de múltiplos deve provocar disputa interna.

Uma ala de apoiadores formada por militares defende que o general Mourão assuma alguns dos compromiss­os do candidato. Esse grupo, porém, pode sofrer resistênci­a de um núcleo mais político.

RIO DE JANEIRO E SÃO PAULO Impossibil­itado de fazer atos públicos de campanha após ter sido atingido por uma facada na quinta-feira (6), o presidenci­ável Jair Bolsonaro (PSL) deve usar as redes sociais para se dirigir a seus eleitores nos próximos 30 dias que antecedem as eleições.

Menos de 24 horas depois de ter sofrido o atentado, ele recorreu à internet para tranquiliz­ar seguidores: “Estou bem e me recuperand­o!”, escreveu. “Agradeço do fundo do meu coração a Deus, minha esposa e filhos, que estão ao meu lado, aos médicos que cuidam de mim e que são essenciais para que eu pudesse continuar com vocês aqui na Terra, e a todos pelo apoio e orações!”

Com grande número de seguidores, que ultrapassa­m 1 milhão, em questão de segundos as postagens receberam centenas de replicaçõe­s e respostas.

Como a internação pode durar pelo menos dez dias, outros assumirão a dianteira nos atos de rua. Já foram escalados para a função dois de seus filhos, o candidato ao Senado Flavio Bolsonaro (PSL-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que disputa reeleição. O vice da chapa, general Hamilton Mourão (PRTB), também deve assumir algumas das agendas.

O ataque sofrido pelo candidato coincidiu com um momento em que a organizaçã­o da campanha pretendia intensific­ar os atos nas ruas.

Embora lidere pesquisas de intenção de votos, ele perde para quase todos adversário­s em simulações de segundo turno, exceto Fernando Haddad (PT), com quem aparece tecnicamen­te empatado.

Diante disso, aliados haviam decidido intensific­ar as ações de campanha nos maiores colégios eleitorais, em especial estados do Sudeste e do Nordeste, e incluir agendas públicas nos domingos e nas segundas-feiras, dias que o candidato tirava para descansar ou para se preparar para entrevista­s e debates.

Bolsonaro havia se comprometi­do a ir pela primeira vez ao Nordeste desde que foi oficializa­do candidato. Começaria na terça-feira (11) em Recife (PE), passaria por Maceió (AL) e encerraria em Salvador (BA), na quinta-feira (13).

Além de comícios, caminhadas e visitas, a campanha terá de decidir sobre a participaç­ão do candidato em entrevista­s e debates.

A escolha de um único representa­nte ou de múltiplos deve enfrentar nova disputa interna de poder. O PRTB se apressou em soltar uma nota na tarde de sexta (7) para dizer que a tendência era que Mourão assumisse os compromiss­os de Bolsonaro. Ao pousar no Rio, o vice amenizou o tom e disse que ainda teria conversas em São Paulo e em Brasília.

O deputado Major Olímpio (PSL), coordenado­r de campanha em São Paulo, confirma a ideia de convocar os quadros para atuarem nas ruas.

“Tenho uma agenda muito grande de eventos de rua, vou pedir aos deputados, às executivas, ao PRTB [que façam o mesmo]. Aliás, neste momento não, mais para a frente. Agora é 100% a saúde dele a preocupaçã­o”, disse à Folha.

Tom semelhante foi dado por Flavio, ao entrar no hospital Albert Einstein, em São Paulo, para visitar o pai.

“O capitão está se recuperand­o, mas a gente vai estar na rua para fazer a campanha dele e virar essa página triste do nosso país”, disse.

Uma ala de apoiadores formada por militares defende que Mourão assuma alguns dos compromiss­os do candidato. Esse grupo pode sofrer resistênci­a de um núcleo mais político, ligado ao presidente do PSL, Gustavo Bebianno, que vinha comandando as ações de campanha.

Esses grupos já mostraram algumas divergênci­as sobre o tom que a campanha deveria ter após o ataque. Horas depois do episódio, Bebianno respondeu “Agora é guerra” à Folha, após ser perguntado sobre a abordagem que seria adotada.

Mourão pediu calma. “Eu acho que as primeiras declaraçõe­s são sempre feitas na base da emoção e aí as pessoas acabam dizendo coisas que não deveriam dizer. Existe um velho ditado: as palavras quando elas saem da boca elas não voltam mais. Essa é uma realidade.”

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Nelson Antoine/Folhapress Apoiadores diante do hospital onde Jair Bolsonaro está internado em SP
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O deputado federal Eduardo Bolsonaro recebe abraço de apoiadora de seu pai em Juiz de Fora

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