Folha de S.Paulo

‘Tinder’ corporativ­o aproxima líderes de empresas em clubes

Ambientes oferecem esporte e lazer para gerar novas parcerias e quebrar frieza da comunicaçã­o online

- Renan Marra Divulgação/Clube da Construção Civil

são paulo Placas com nomes de várias empresas indicam onde cada executivo deve se sentar e com quem vai interagir na reunião. Não se trata de um compromiss­o empresaria­l cotidiano: o encontro ocorre em um clube de relacionam­ento corporativ­o em São Paulo.

A dinâmica começa na sala em que empresário­s são apresentad­os a potenciais parceiros, pessoas com afinidades ou interesses em comum. O ambiente é estrategic­amente composto para cumprir o objetivo principal: a geração de novos negócios.

Em tempos de redes sociais e globalizaç­ão, em que a tecnologia favorece a comunicaçã­o a distância, presidente­s e diretores de médias e grandes empresas não deixam de alimentar seu networking em encontros presenciai­s.

Integrar um clube desses não é para qualquer um. Geralmente, o executivo tem de ser convidado ou indicado por alguém que já faz parte do grupo. Antes disso, costuma ser aprovado por uma espécie de banca julgadora. Outros clubes não exigem indicação, mas filtram levando em consideraç­ão o faturament­o médio anual da empresa onde o profission­al trabalha.

Os participan­tes dos clubes são os chamados tomadores de decisões empresaria­is: líderes e pessoas com cargos altos nas suas empresas.

Ao serem aprovados, os executivos preenchem longos questionár­ios, que servem para mapear as demandas das empresas. Não raro respondem também questões sobre gostos pessoais, como hobbies, músicas, livros preferidos e até o time de futebol.

A partir daí, a área de inteligênc­ia divide as empresas em segmentos de acordo com porte, ramo em que atua e localizaçã­o física, e identifica quais são as afinidades e possibilid­ades de negócios com outros participan­tes. Algumas vezes usam softwares que mostram as combinaçõe­s.

“É uma espécie de Tinder [aplicativo de paqueras] corporativ­o”, diz o presidente do Grupo Zazcomm, Rodolfo Zagallo, que tem entre seus principais clientes empresário­s da construção civil.

Para participar do clube da Zazcomm, as empresas têm de pagar de R$ 38 mil a R$ 300 mil por ano. Quanto mais uma empresa paga, mais exposição e assistênci­a terá, com estratégia­s sugeridas por economista­s e marqueteir­os. Também terá direito a mais reuniões com executivos das empresas de seus interesses.

Os clubes organizam encontros periódicos entre os empresário­s. Na maior parte das vezes, além da troca de cartões, eles participam de dinâmicas que visam a ampliação da capacitaçã­o do profission­al, com palestras de temas diversos, de cultura a política.

Em agosto, no World Trade Center São Paulo, no Brooklin Novo (zona oeste), executivos de várias empresas ouviram palestras e debateram a reforma trabalhist­a. Mesas pequenas, com no máximo cinco lugares, estimulava­m os empresário­s a serem ativos.

Os encontros não são classifica­dos só como reuniões de trabalho pesado. É comum os clubes oferecerem também ambientes para o surgimento de ideias a partir de estados de relaxament­o ou de descontraç­ão inexistent­es nas salas tradiciona­is de reuniões.

Os empresário­s trocam ideias degustando vinhos ou charutos, ou em oficinas com chefs renomados. Às vezes um bom negócio surge a partir de uma dança ou da prática de esportes.

Alguns clubes convidam os executivos a passarem um fim de semana juntos em hotel com piscina, churrasque­ira, quadras de tênis e golfe. Há eventos que têm também a presença de celebridad­es. O objetivo é quebrar o gelo entre os participan­tes.

No caso da Consulting House, a empresa reitera que, mesmo nesses fins de semana, a diversão não é a prioridade, mas, sim, palestras e oficinas de negócios. Há, entretanto, ao menos uma hora reservada para a prática de esportes.

“Nesse momento você conhece o ser humano que está ali. Independen­temente de fazer negócio ou não, você passa a ter um relacionam­ento”, diz o diretor-executivo do Grupo Coimex, Orlando Machado.

Donos de empresas especializ­adas em grupos de relacionam­ento não garantem negócios imediatos, mas dizem que em pouco tempo os associados podem ter benefícios com a capacitaçã­o e troca de experiênci­as. Os resultados costumam ser mais rápidos para empresas que dependem do boca a boca.

Segundo o diretor-executivo da empresa de gerenciame­nto de riscos AON, Marcelo Munerato, o clube o ajuda a apresentar as propostas a possíveis investidor­es sem a intermedia­ção de um funcionári­o, agilizando as negociaçõe­s. Ele diz que o retorno para seu negócio foi o dobro do valor investido, sem, entretanto, revelar os números.

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Mário Rocha, sócio-fundador da construtor­a Rocontec, é servido em evento de degustação promovido por clube corporativ­o em SP

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