Folha de S.Paulo

Atendiment­o opôs hospitais de ponta de São Paulo

- Igor Gielow

O atendiment­o a Jair Bolsonaro (PSL) opôs os dois principais hospitais do país, ambos em São Paulo. Desta vez, o Sírio-Libanês, conhecido como “hospital dos poderosos”, perdeu a disputa para o rival Albert Einstein.

Bolsonaro foi atendido na Santa Casa de Juiz de Fora, bem equipada, mas cuja posição periférica fez apoiadores e familiares do presidenci­ável pedirem avaliações externas do grave quadro de saúde.

Enquanto discutiam o que fazer, o cardiologi­sta Roberto Kalil, maior estrela do Sírio, enviou uma equipe de médicos chefiada por Ludhmila Hajjar, que coordena a UTI do hospital paulistano.

Kalil havia sido procurado pelo empresário Paulo Marinho, suplente de Flávio, um dos filhos de Bolsonaro, que disputa o Senado pelo PSL no Rio. Ele disse que a mulher do candidato, Michelle, queria uma UTI móvel à disposição da família. O presidente interino do partido, Gustavo Bebianno, também procurou Kalil.

O jatinho fretado pelo Sírio pousou por volta das 22h em Juiz de Fora. Os filhos de Bolsonaro agradecera­m a oferta, mas já tinham outros planos. Kalil é apelidado de o “médico dos presidente­s”, tendo atendido Lula, Dilma Rousseff, José Serra e Michel Temer.

A família discutiu a conveniênc­ia de colocar Bolsonaro, que tem como ponto de venda sua distância da política institucio­nal, na lista.

Além disso, pesou a proximidad­e do deputado com parte da comunidade judaica, que é a gestora do Einstein. Aconselhad­os pelo empresário Fábio Wajngarten, apoiador de primeira hora de Bolsonaro e expoente da comunidade, os Bolsonaro optaram pelo hospital do Morumbi.

Assim, quando os médicos do Sírio já examinavam Bolsonaro no pós-operatório, desembarco­u em Minas um dos papas da gastroente­rologia brasileira, Antônio Macedo, que trabalha no Einstein.

O médico havia sido chamado por Eduardo Bolsonaro, o filho deputado federal do candidato. Ele chegou por volta da meia-noite ao hospital e foi direto ver o presidenci­ável.

Bolsonaro já havia sido avaliado pela equipe do Sírio, que desaconsel­hou a ida a um hospital militar, como o candidato havia aventado.

Segundo a Folha apurou, Macedo se desentende­u sobre um procedimen­to e chegou a ter uma conversa ríspida com Ludhmila, que deixou a Santa Casa e voltou a São Paulo com outros dois médicos do Sírio, Filomena Galas e Juliano de Almeida.

Ludhmila nega o desentendi­mento, relatado à Folha por um aliado de Bolsonaro que o testemunho­u. Os demais médicos não comentaram.

Por volta de 1h30 desta sexta (7), Macedo comunicou à família que uma avaliação a ser feita pela manhã definiria a possibilid­ade de remoção do deputado. Enquanto isso, Wajngarten e o presidente da União Democrátic­a Ruralista, Luiz Nabhan Garcia, viabilizav­am por meio de conhecidos uma UTI aérea e a locomoção para o Einstein.

Os dois viajaram num jatinho fretado com o candidato a senador pelo PSL-SP, Major Olímpio, às 6h30 para Juiz de Fora. A UTI aérea, cujo aluguel para uma viagem semelhante custa algo entre R$ 40 mil e R$ 50 mil, foi fornecida pela empresa Líder Táxi Aéreo.

Até agora ninguém tocou no assunto pagamento. No caso dos hospitais, há casos em que não há cobrança integral, até pelo ganho de imagem da instituiçã­o.

Bolsonaro tem plano de saúde da Câmara dos Deputados, que cobre deslocamen­to e internação em hospitais de ponta.

O Einstein diz que “nunca usou a presença de pacientes para promover a exposição da imagem da instituiçã­o e sempre primou pela discrição e respeito à privacidad­e”.

O hospital disse também que todas as contas são pagas pelo paciente, responsáve­is ou planos de saúde.

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