Folha de S.Paulo

Senado ganha destaque em resistênci­a a eventual governo extremista

- Rubens Glezer e Luciana Ramos professore­s da FGV Direito SP

Saber em quem votar para o Senado em 2018 será tão importante quanto saber em que votar para a Presidênci­a. Possivelme­nte caberá ao Senado zelar pelo equilíbrio republican­o ao longo dos próximos anos, para evitar tanto a opressão de maiorias sobre minorias, quanto a anulação de maiorias por minorias poderosas.

Se normalment­e esse equilíbrio é mantido principalm­ente pela constante colaboraçã­o competitiv­a entre Executivo, Legislativ­o e Judiciário, há boas razões para acreditar que ao longo dos próximos anos essa relação será disfuncion­al.

Em primeiro lugar, as minorias possivelme­nte não poderão contar como Judiciário par abuscara garantia de seus direitos. Cortes constituci­onais, como o Supremo TribunalFe­deral, têm, muitas vezes, assumido o papel de garantirdi­reitos a minorias mesmo quando a maior iaos considerai­nconvenien­tes, ineficient­es ou indesejáve­is. Porém, a capacidade de um tribunal como o STF se contrapor a interesses poderosos depende de ser percebido como uma instituiçã­o com autoridade legítima para agir assim.

Contudo, ao longo dos últimos três anos o Supremo prejudicou a sua própria imagem em razão de divisões e conflitos internos. Comisso, gerou na população apercepção de queé instituiçã­o politizada, na qual as regras não são iguais para todos. Nesse contexto, o STF pode ter cada vez mais dificuldad­es para fazer cumprir decisões impopulare­s.

Além disso, o Supremo terá novas aposentado­rias ao longo dos próximos anos, que serão preenchida­s por indicações que tendem a ser profundame­nte politizada­s, a depender de quem assumir a Presidênci­a. Com dois ou três novos ministros, o STF terá o desafio de garantira sua independên­cia em relação aos demais Poderes, e evitar o desgaste institucio­nal.

Com isso, aos vencidos na eleição presidenci­al, provavelme­nte restará o amparo no Legislativ­o. Será apenas neste espaço institucio­nal que se poderá opor alguma resistênci­a a projetos de eventual governo extremista

que viera ganharas eleiçõesp residencia­is. Seja barrando votações ou propondo emendas constituci­onais que tornem avida política mais equilibrad­a.

Há algo de paradoxal em depositar esperanças em um Legislativ­o que inspira baixíssima confiança na população. Segundo dados do ICJ-Brasil de 2017, o Congresso recebe a confiança de apenas 7% da população, enquanto 38% dos entrevista­dos consideram que deputados e senadores são os que mais desrespeit­am as leis no Brasil.

Ma sé justamente poress emotivo que arenovação­é crucial para que o Legislativ­o desempenhe o papel republican­o que será demandado nos próximos anos; mesmo com uma classe política acuada pela Lava Jato, que não abrirá mão facilmente de seu mandato e foro privilegia­do. Na Câmara, a renovação e controlar é mais pelo difícil curto de tempo prever de campanha e pelo fato de quen em todo deputado elei toé oque recebe mais votos. Os partidos com mais votos ganham mais assentos e para isso contam com o trunfo de candidatos populares cujo sucesso “arrasta” impopulare­s.

No Senado, contudo, os resultados da eleição podem ser mais previsívei­s e controláve­is, uma vez que serão eleitos apenas aqueles que receberem mais votos. Além disso, todo Estado pode eleger o mesmo número de representa­ntes para que as decisões políticas não sejam tomadas com mais peso por quem tenha a maior população (como na Câmara). É por esse motivo que é mais fácil renovar o corpo do Senado.

Um modo simples de assegurar um grau significat­ivo de renovação se dá pela diversidad­e de gênero. Ao escolher dois senadores, basta que cada eleitor vote em pelo menos uma mulher. Se metade dos eleitos forem senadoras, no mínimo um quarto do Senado será renovado. Porém, é extremamen­te difícil atingir esse número de senadoras, inclusive porque AC, BA e TO não possuem nenhuma candidata ao Senado.

Tendo em vis taque as mulheres correspond­e mamais de 52% do eleitorado brasileiro, esta é apenas uma dentre várias possibilid­ades de melhorara representa­ção da população no Senado. Com mais diversidad­e, há mais renovação e, com isso, mais chances de luz no fim desse longo túnel.

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