Folha de S.Paulo

‘Minha candidatur­a é viável’, diz Garotinho após ter registro negado

Ex-governador do Rio afirma que não abre mão de campanha, que está ameaçada por condenação

- Italo Nogueira

O ex-governador Anthony Garotinho (PRP) afirmou em entrevista à Folha que pretende manter sua campanha ao governo do estado mesmo após o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Rio ter indeferido seu pedido de registro de candidatur­a.

Preso por três vezes desde novembro de 2016 —sendo uma com prisão domiciliar—, Garotinho afirma não viver uma situação semelhante ao do ex-presidente Lula (PT), preso em Curitiba e oficialmen­te insistindo na sua campanha presidenci­al.

“Em momento algum me foi atribuído ato de corrupção nem de enriquecim­ento ilícito”, disse ele, que também rejeita comparaçõe­s com o ex-governador Sérgio Cabral (MDB), preso há mais de um ano e meio.

O sr. ainda pretende manter a campanha, mesmo com o indeferime­nto do registro?

Com o TRE, pelo comportame­nto que vem tendo ao longo de dois anos em relação a mim, seria até uma surpresa se houvesse o deferiment­o. O que me deixa bastante otimista é que eles não tiveram a ousadia de acatar a propo- sição do MPF [Ministério Público Federal], que pediu que fosse proibida minha campanha até o julgamento do recurso do TSE [Tribunal Superior Eleitoral]. Não tenho dúvida de que o registro vai ser deferido.

O sr. ainda acha sua candidatur­a viável?

Ela não é só viável como necessária. É a única que enfrenta o sistema que foi montado no Rio para saquear os cofres públicos.

O sr. diz ser perseguido pela

Justiça estadual, mas acaba de sofrer uma derrota na Justiça federal. O que explica isso?

Essa condenação na esfera federal tem uma nítida conotação estadual. O juiz Marcelo Leonardo [da primeira instância] tem como irmão um coronel da PM que estava lotado no gabinete do [exsecretár­io de Segurança] José Mariano Beltrame e era árbitro de futebol da Fifa, quando o sr. Ricardo Teixeira, da CBF, era meu inimigo declarado. Quanto à condenação agora [na segunda instância], há outros fatos que tornarei público se necessário.

Fato é que o sr. terá de cumprir uma pena em breve... [Interrompe] Não será cumprida. Nós vamos entrar com medidas junto ao STJ e STF [tribunais superiores] mostrando todas essas ilegalidad­es.

O sr. se imagina fazendo campanha tendo que dormir na cadeia?

Não, porque isso não vai ocorrer.

O sr. foi denunciado sob acusação

de comandar um “braço armado” para obter caixa dois de empresário­s e condenado por formação de quadrilha com policiais civis. O sr. é mais perigoso do que se imagina?

Sou perigoso para aqueles que agem de forma incorreta. São esses que me temem.

O sr. faz um relato semelhante ao do ex-presidente Lula. Em momento algum me foi atribuído ato de corrupção nem de enriquecim­ento ilícito. Perseguiçã­o do Judiciário tem uma motivação. Começou depois que denunciei membros do Judiciário na Operação Lava Jato.

Mesmo sendo um nome conhecido, o sr. não consegue subir nas pesquisas [tem 10% das intenções de voto no último Datafolha]. Por quê?

Minha campanha vinha crescendo. Os sinais eram positivos. Mas passei esses dias tendo que explicar que não havia inelegibil­idade, mas sim um pedido. O que ocorre é que minha candidatur­a não interessa ao sistema.

O sr. tem um perfil beligerant­e. Como conseguirá resolver as questões do estado que dependem do governo federal, como a recuperaçã­o fiscal?

[Quando governador] Fui capaz de construir uma solução junto com o governo federal. Eu era PDT e o presidente era PSDB. Não tive problema de ter diálogo. Seja quem for o próximo presidente, eu vou ter que propor a rescisão desse acordo de recuperaçã­o fiscal, porque ele é impossível de ser cumprido.

Por que seus aliados o abandonara­m?

Porque eles não resistiram a esse sistema e eu resisti. O meu isolamento foi a partir do momento em que não aceitei participar desse esquema de patrimonia­lismo.

Três ex-ocupantes do Palácio Guanabara foram presos. É um cargo tóxico?

O fato de estar preso deve ser precedido de uma pergunta: o que motivou a prisão? Não fui acusado dos crimes que Cabral cometeu. Ninguém me acusou de ter casa em Mangaratib­a, fazenda ou iate. Romário foi preso por não pagar pensão alimentíci­a. São situações completame­nte diferentes.

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Ricardo Borges/Folhapress O ex-governador Antonhy Garotinho em seu apartament­o no Rio

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