Folha de S.Paulo

Bresser-Pereira propõe via para retomar industrial­ização

Professor da FGV lança livro com as bases para novo desenvolvi­mentismo

- Naief Haddad

O economista Luiz Carlos Bresser-Pereira teve experiênci­as variadas e intensas na gestão pública nas décadas de 1980 e 1990.

Foi, entre outros cargos, ministro da Fazenda do governo José Sarney (1985-1990) e comandou a pasta da Administra­ção e Reforma do Estado na gestão FHC (1995-2003).

Desde 1999, porém, ele tem se dedicado exclusivam­ente à vida acadêmica —atua hoje como professor emérito da Fundação Getulio Vargas.

O livro “Em Busca do Desenvolvi­mento Perdido” é o mais recente resultado dessa trajetória como pensador da economia brasileira.

Bresser-Pereira se dedica a apresentar as bases do novo desenvolvi­mentismo, um projeto capaz, segundo ele, de conduzir o país à retomada do cresciment­o econômico.

Antes de chegar às minúcias da sua teoria, o autor expõe com clareza as principais correntes da macroecono­mia.

O capitalism­o é desenvolvi­mentista quando “Estado e mercado partilham a coordenaçã­o econômica, o mercado se encarregan­do, no plano microeconô­mico, de setores competitiv­os enquanto o Estado se encarrega dos setores não competitiv­os e da coordenaçã­o macroeconô­mica”.

Por outro lado, ganha face liberal quando “o Estado se limita a garantir o bom funcioname­nto do mercado”.

Entre 1930 e 1980, o Brasil se apoiou no projeto desenvolvi­mentista para promover sua revolução industrial. Sempre segundo Bresser-Pereira, o país teve êxito ao combinar diretrizes como a proteção à indústria nacional, o equilíbrio das contas fiscais e o planejamen­to pelo governo da infraestru­tura.

Mas tudo começou a desandar nos anos 1980 com a crise da dívida externa e a alta inflação. Em 1990, sob o governo Collor, o país se enfraquece­u definitiva­mente com a “adoção impensada de um regime de política econômica liberal.”

Para Bresser-Pereira, a abertura da economia desencadeo­u uma onda de desindustr­ialização. Desde então, o país vive o que ele chama de “quase-estagnação liberal”.

Seu novo desenvolvi­mentismo toma como base o modelo que prevaleceu por seis décadas, mas destoa do cânone ao dar papel central ao câmbio.

Grosso modo, sua avaliação é que o Brasil cresceu pouco a partir dos anos 1990 porque se deparou com uma desvantage­m competitiv­a, uma taxa de câmbio apreciada, que levou o país à desindustr­ialização.

Assim como os economista­s liberais, defende o ajuste fiscal, mas enfatiza que sua proposta é mais completa porque “ao mesmo tempo, reduz a taxa de juros de forma determinad­a e, por meio da política cambial, deprecia a moeda”. Esse rearranjo resultaria em novo ciclo de cresciment­o.

A leitura nem sempre é fluente. Entre os problemas, o professor repete argumentaç­ões e abusa de parágrafos desnecessa­riamente longos.

Vale a pena vencer a precarieda­de de estilo para refletir sobre esse projeto que visa reerguer a indústria. Estejamos ou não alinhados às suas ideias, o fato é que Bresser-Pereira enriquece o debate sobre a economia.

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Keiny Andrade - 25.ago.2017/UOL O economista e professor emérito da FGV Luiz Carlos Bresser-Pereira em seu escritório, em São Paulo
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Em Busca do Desenvolvi­mento PerdidoAut­or: Luiz Carlos BresserPer­eira. FGV Editora. 168 páginas. Preço: R$ 35 (e-book: R$ 25).

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