Folha de S.Paulo

Doações e vínculo com sociedade diferencia­m museus americanos

Fundações, sociedades e coletivos recebem amplo apoio da iniciativa privada nos EUA

- Júlia Zaremba

washington Os Estados Unidos têm em torno de 35 mil museus, segundo dados do Institute of Museum and Library Services, que se distinguem dos quase 3.800 brasileiro­s especialme­nte em relação à gestão, ao financiame­nto e ao vínculo com o público.

E, claro, na oferta: enquanto há cerca de um museu para cada 55 mil brasileiro­s, existe um para cada grupo de cerca de 9.000 americanos.

A maioria dos museus brasileiro­s está sob a responsabi­lidade de entidades públicas, segundo dados do Ibram (Instituto Brasileiro de Museus): 63% deles são vinculados a órgãos públicos e 37% privados.

É o caso do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, na zona norte do Rio, que teve parte do seu acervo histórico, com cerca de 20 milhões de itens, destruído por um incêndio no último domingo (2).

Nos Estados Unidos, existe uma tradição de o financiame­nto e a gestão ficarem sob a batuta de fundações, sociedades e coletivos que contam com grande apoio da iniciativa privada, diz Maria Cristina Oliveira, museóloga da USP.

Os museus privados sem fins lucrativos são maioria nos EUA, diz Wilson E. O’Donnell, museólogo da Universida­de

Desvincula­r museu é autoritári­o, diz UFRJ

A UFRJ (Universida­de Federal do Rio de Janeiro) reagiu nesta sexta (7) ao plano estudado pela gestão Michel Temer (MDB) de desvincula­r o Museu Nacional da instituiçã­o. Em nota, afirma que seria “ato arbitrário e autoritári­o contra a autonomia universitá­ria e a comunidade científica” e que o corpo de docentes, pesquisado­res, estudantes e servidores do museu

“jamais poderia se submeter a uma organizaçã­o social ou qualquer outra instituiçã­o que não seja a UFRJ”. de Washington: cerca de 24 mil. “O que não significa que não tenham lucros. Mas todo o dinheiro vai para o museu, não para os controlado­res.”

Eles recebem recursos financeiro­s do setor privado e uma parte dos recursos do governo, por meio de programas de financiame­nto. O professor estima que em torno de 60% dos recursos das instituiçõ­es venham de doações da iniciativa privada. Dos 40% restantes, a minoria do dinheiro vem da venda de ingressos.

Todos têm um corpo de diretores para gerir e garantir o bom funcioname­nto do lugar.

Os gestores brasileiro­s, por outro lado, nem sempre são bem qualificad­os e podem ser fruto de indicação política.

“O maior desafio para as instituiçõ­es é ter uma governança estável, com profission­ais especializ­ados, sem que sejam comprometi­das por oscilações políticas”, afirma Luciana Cardoso, museóloga da UFSC (Universida­de Federal de Santa Catarina).

A falta de equipament­os de segurança adequados para proteger acervos e itens no Brasil chamou a atenção de Christophe­r Dick, diretor do museu de Zoologia da Universida­de de Michigan. “Nos grandes museus dos Estados Unidos, proteções contra desastres e roubos e o recebi- mento de fundos para que as coleções não sejam roubadas são prioridade­s”, diz.

A relação entre museus e a sociedade americana também é mais próxima do que no Brasil, segundo Marina Roriz, doutora em sociologia e professora da UFG (Universida­de Federal de Goiás).

“O envolvimen­to com as instituiçõ­es começa na infância, já que as crianças podem se transforma­r em futuros mantenedor­es”, diz. “E não querem que frequente só com a escola, mas também com os pais.”

Ações educativas e de lazer são desenvolvi­das ao longo dos anos para a construção de vínculos. “Uma gestora me disse uma vez: ‘ninguém acorda com 50 anos e decide que, a partir dali, vai passar a doar recursos para o museu’.”

Cardoso, da UFSC, acredita, porém, que museus brasileiro­s têm sido inseridos cada vez mais no dia a dia da sociedade, de escolas e minorias —cita como exemplo o Museu de Diversidad­e Sexual (São Paulo) e o Museu das Remoções da Vila Autódromo (Rio).

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