Folha de S.Paulo

Uso de imagem de Bolsonaro internado divide seus aliados

Exposição de candidato no hospital foi criticada por candidato a vice-presidente e guru econômico

- Guilherme Seto, Talita Fernandes e Júlia Barbon Flávio Corvello/Futura Press/Folhapress, Aloisio Maurício/Foto Arena/Agência O Globo e Nelson Antoine/ Folhapress

Após o candidato ser vítima de facada na quinta (6), aliados vêm publicando nas redes imagens ao seu lado na UTI. Círculo imediato e seguidores criticam exposição, mas ferida já é explorada na campanha.

O entra e sai na UTI do hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde está internado Jair Bolsonaro (PSL), evidencia a tentativa de aliados de gerar dividendos políticos a partir da facada sofrida por ele em Juiz de Fora na quinta(6).

O movimento, no entanto, tem gerando rusgas no círculo mais próximo do paciente.

O senador Magno Malta (PRES), que chegou a ser cotado para vice da chapa presidenci­al, vem se destacando com atitudes que têm sido reprovadas por outros aliados do capitão reformado do Exército.

Na sexta-feira (7), Malta gravou vídeo dentro da UTI ao lado de Bolsonaro e publicou nas redes sociais. O paciente fala com dificuldad­e frases curtas com agradecime­ntos.

O pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, entrou na UTI acompanhad­o de Malta e fez vídeos rezando por Bolsonaro, que, deitado, mexendo apenas os olhos, fala em “milagre” e agradece a Deus.

No domingo (9), Malta publicou nas redes sociais uma imagem da cicatriz do presidenci­ável após a operação.

A imagem mostra um grande corte, cheio de pontos, atravessan­do o abdômen de Bolsonaro, e também um dreno no local da facada.

O senador passou a ser criticado por grande parte de seus seguidores, que argumentav­am que a foto era invasiva, apelativa ou desnecessá­ria. Segundo ele, a intenção seria mostrar que não há invenção e que o ataque foi real. “Isso é mentira, canalhas? Força, meu irmão!!! Deus, o Brasil com você”, escreveu Malta.

Tamanho acesso a Bolsonaro incomodou a equipe médica e a família, que se preocupam com a possibilid­ade de infecção e pensam na necessidad­e de repouso para a recuperaçã­o.

No sábado (8), o hospital divulgou boletim em que reforçava a instrução para que a UTI seja frequentad­a apenas pela esposa, Michelle, e pelos filhos, que passaram a controlar com mais rigor as visitas.

Eduardo, deputado federal, e Flavio, candidato ao Senado, fizeram pronunciam­entos públicos pedindo a compreensã­o daqueles que desejam visitar o pai, ressaltand­o que não seria possível receber mais ninguém.

O único autorizado desde então a entrar na UTI além da família foi o advogado de Bolsonaro e presidente do PSL, Gustavo Bebianno.

Neste domingo (9), à Folha, o general Hamilton Mourão, vice de Bolsonaro, foi crítico aos excessos dos visitantes, sem mencionar diretament­e a quem se referia.

“Ele está numa recuperaçã­o e não é para ficar fazendo oba oba como fizeram. Exageraram totalmente ”, afirmou. Segundo o general, neste momento devem ser priorizada­s visitas de familiares .“É uma área de isolamento, qualquer resfria doque pegue ali ele morre.”

Mentor econômico de Bolsonaro, Paulo Guedes foi ao hospital no sábado (8), mas ressaltou que não quis entrar na U TI. Disseque o momento éder espeitoàfa­mí lia e ao paciente. Perguntado sobre o que achava daqueles que têm entrado no quarto e não são familiares, balançou a cabeça e disse: “você é um cara inteligent­e”, em nítida reprovação.

Por outro lado, ainda que os atos exacerbado­s estejam sendo vistos com maus olhos, a feridade Bolson arode v eter protagonis­mo na campanha.

A estratégia é transforma­r o presidenci­ável em algo parecido a um mártir, colocando-o como o político que pôs a própria vida em risco em nome da crença em um projeto de país.

Neste sábado (8), os perfis na internet de Flavio Bolsonaro e do PSL compartilh­aram a imagem de uma camiseta com os dizeres“Meu P ar tidoÉo Brasil ”, rasgada een sanguentad­a.

Trata-se de uma montagem que faz referência à camiseta utilizada por Bolsonaro no dia em que foi esfaqueado. A peça verdadeira foi cortada pelos médicos e descartada.

“O Brasil virou um país de covardes. Quando alguém fala em dar o sangue pela pátria geralmente é bravata. Ele estava consciente de que isso [a facada] podia acontecer”, disse Bebianno, defendendo o uso das imagens do ataque na campanha. “Tem que manter viva na memória das pessoas [a imagem da facada].”

Procurada, a assessoria do hospital não se manifestou.

Neste domingo, novo boletim médico afirmou que Bolsonaro apresenta leve anemia, mas quadro clínico em evolução.

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A partir do alto, Alexandre Frota, Eduardo Bolsonaro e Magno Malta visitam o candidato no hospital
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Foto do abdômen de Bolsonaro divulgada por Magno Malta; pastor Silas Malafaia visita o candidato
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