Folha de S.Paulo

Deputado continua rejeitado por mais pobres e mulheres

Ataque a Jair Bolsonaro gerou oscilações positivas para candidato do PSL especialme­nte em nichos específico­s

- Mauro Paulino e Alessandro Janoni Paulino é diretor do Datafolha; Janoni é diretor de pesquisas do Datafolha

O ataque contra Bolsonaro foi insuficien­te para sensibiliz­ar grupos de grande peso quantitati­vo. Ele continua reprovado por quase metade do segmento feminino e pela maior parte dos que têm renda familiar mensal de até 2 salários mínimos.

São tantos os fatores com potencial de impacto sobre os resultados divulgados nesta segunda (10) pelo Datafolha, que as mudanças verificada­s no quadro eleitoral podem parecer até modestas.

Além da intensific­ação da cobertura jornalísti­ca após o registro das candidatur­as, episódios de grande repercussã­o despertara­m o eleitorado na última semana.

O início da propaganda gratuita no rádio e na TV, a decisão do TSE em barrar a candidatur­a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atentando contra Jair Bolsonaro (PSL) pautaram debates e mobilizara­m a opinião pública.

O saldo desse período percebe-se logo nas intenções de voto espontânea­s, primeira pergunta do questionár­io aplicada pelo Datafolha e onde não há apresentaç­ão dos nomes dos candidatos para os entrevista­dos.

Nessa situação, menções a Lula despencara­m 11 pontos, citações a Bolsonaro subiram cinco, Ciro Gomes também melhorou seu desempenho e Fernando Haddad, que deve assumir o lugar do petista, aparece pela primeira vez, com 4%.

Quando o cartão com os candidatos é apresentad­o, Bolsonaro é apontado como preferido por cerca de um quarto dos brasileiro­s. O ataque que sofreu em Juiz de Fora gerou oscilações positivas para o candidato do PSL em diversos estratos do eleitorado, mas com maior expressão em nichos específico­s como entre os que têm de 45 a 59 anos e os que ganham de 5 a 10 salários mínimos.

O episódio, no entanto, foi insuficien­te para sensibiliz­ar de maneira importante conjuntos de grande peso quantitati­vo. Bolsonaro continua reprovado por quase metade do segmento feminino e pela maior parte dos que têm renda familiar mensal de até dois salários mínimos. O primeiro correspond­e a 53% do eleitorado e o segundo a 46%.

Se por um lado o atentado não provocou uma onda bolsonaris­ta, por outro parece ter inibido efeitos dos ataques que vinha recebendo da campanha de Geraldo Alckmin (PSDB). O tucano, além de continuar no mesmo patamar do levantamen­to anterior, vê-se rodeado pelo imbróglio esquerdist­a provocado pela inelegibil­idade de Lula.

Empatado com o ex-governador já aparece Fernando Haddad, alavancado por seu principal cabo eleitoral na propaganda no rádio e na TV. A maioria dos brasileiro­s diz ter assistido ao horário gratuito, pouco mais de um terço diz votar em candidato apoiado por Lula e a taxa de conhecimen­to sobre o ex-prefeito de São Paulo cresceu seis pontos.

Numericame­nte à frente do paulista, mas estatistic­amente empatados, Marina Silva (Rede) sucumbe ao conhecimen­to crescente de Haddad e ao bom desempenho de Ciro Gomes (PDT) na TV.

Os que hoje votam em Ciro Gomes correspond­em a um dos estratos que mais valoriza o horário eleitoral e que mais considera o noticiário como fonte para decisão do voto. Talvez por isso, o pedetista tenha crescido em segmentos com maior acesso à informação, como os jovens, e entre os que têm pelo menos escolarida­de e renda médias. Também ganhou apoio no Nordeste e no Centro-Oeste.

Nenhum outro dado ilustra melhor a pulverizaç­ão da esquerda do que a evolução das intenções de voto entre os simpatizan­tes do PT.

Antes da decisão do TSE, na pesquisa de 21 de agosto, quando se substituía Lula por Haddad, diante da possibilid­ade de impediment­o de sua candidatur­a, 27% dos petistas diziam votar em branco ou nulo, 19% optavam por Marina, 14% por Ciro Gomes e apenas 11% por Haddad.

Hoje, a taxa dos que dizem anular o voto nesse estrato caiu dez pontos percentuai­s, a opção por Haddad subiu 19 pontos (foi para 30%), a vontade de votar em Ciro oscilou positivame­nte para 18%, enquanto Marina perdeu nove pontos (tem 10% do estrato, hoje).

Mas, apesar da maior parte do eleitorado se dizer decidida quanto ao candidato que escolheu, tendência verificada especialme­nte entre eleitores de Bolsonaro e Haddad, nada pode ser descartado sobre o futuro dessa eleição. Como esse futuro é curto, tanto as estratégia­s de Alckmin para atrair o eleitorado tradiciona­l do PSDB — mais rico e escolariza­do—, hoje votando em um Bolsonaro vitimizado, quanto os discursos dos nomes à esquerda para desempatar o páreo diante de um forte cabo eleitoral, exigem de ambos ações contundent­es, imediatas, certeiras, porém cautelosas. Desafios para as campanhas.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil