Folha de S.Paulo

Após título no Aberto dos EUA, Thiago Wild diz estar maduro para o tênis profission­al

Campeão juvenil do Aberto dos EUA afirma ter confiança para o período de transição e não teme parecer arrogante

- Daniel E. de Castro

O brasileiro Thiago Seyboth Wild, 18, campeão juvenil do Aberto dos EUA no domingo (9), considera estar bem preparado para um momento definidor na carreira dos tenistas: a transição para o circuito profission­al.

A confiança, porém, possui pouca relação com o fato de o paranaense de Marechal Cândido Rondon ter sido o segundo atleta do país a conquistar um Grand Slam como juvenil.

Para Wild, o troféu obtido em Nova York tem um papel importante na sua trajetória e representa a realização de um sonho, mas não definirá um caminho mais fácil ou difícil na elite do tênis mundial.

“A cabeça de um jogador juvenil não tem que estar preparada para querer ganhar todos os torneios. Tem que estar preparada para lidar bem com momentos bons e ruins”, diz em entrevista à Folha.

Ele afirma que a maturidade necessária no período de transição foi adquirida ainda no juvenil. “Acho que eu consegui boa parte dela, até mais cedo do que alguns jogadores”.

Nos últimos anos, há exemplos bem-sucedidos e malsucedid­os de tenistas que saíram do último estágio antes do profission­al como promessas.

O alemão Alexander Zverev, campeão do Aberto da Austrália juvenil em 2014, está no primeiro grupo. Ele já ocupou a terceira posição do ranking e, aos 21 anos, tem três troféus de torneios Masters 1.000.

Mas há casos também como o do primeiro brasileiro a triunfar em um Slam juvenil, o alagoano Tiago Fernandes. Vencedor na Austrália em 2010, ele abandonou o tênis quatro anos depois, após resultados frustrante­s no início da carreira profission­al.

Com bom saque e estilo agressivo, Wild acredita que seu jogo está em bom nível para a próxima etapa da carreira.

“Não tenho muito mais golpes ou potência para acrescenta­r, é mais afinar, deixar os detalhes cada vez mais cristalino­s. A principal diferença é a intensidad­e que o jogo [profission­al] pede”, diz.

Este é seu último ano como juvenil, mas ele já compete com frequência em torneios profission­ais e conquistou dois títulos de nível future, o mais baixo entre os adultos.

Seu jogo mais relevante na elite até o momento foi em fevereiro, quando recebeu convite e disputou o Aberto do Brasil, torneio de nível ATP (Associação dos Tenistas Profission­ais). Na ocasião, ele sentiu a diferença de preparo físico e perdeu na primeira rodada para o veterano argentino Carlos Berlocq, 35.

Arthur Rabelo, técnico de Wild na academia Tennis Route, no Rio de Janeiro, diz que o troféu nos EUA deve trazer boas oportunida­des para o atleta, como mais convites para torneios e apoio financeiro.

Sobre o jogo do paranaense, ele afirma que uma lacuna a ser trabalhada é a forma de definição dos pontos. Como Wild cria muitos espaços em quadra com seus golpes, poderia subir mais à rede e usar voleios. “Nem sempre depender da bola salvadora, da pancada incrível”, explica.

Além da agressivid­ade em quadra, chama a atenção de quem acompanha os jogos do tenista a sua atitude. Ele costuma vibrar de forma efusiva e faz questão de se mostrar sempre confiante, como o ídolo Rafael Nadal.

A possibilid­ade de por esse motivo ser considerad­o arrogante pelo público não parece preocupá-lo neste momento.

“Algumas pessoas podem olhar para mim e pensar que eu faço isso porque quero me mostrar melhor, mas outras vão olhar da maneira que eu quero que elas olhem. Eu me sinto confiante, não quero diminuir outras pessoas para parecer maior”, afirma.

O comportame­nto em quadra também faz parte das conversas entre técnico e jogador. “O sujeito tem que ter alguma autoconfia­nça. Se hesitar, muito dificilmen­te vai acertar com a intensidad­e que precisa. Só não pode viajar na maionese achando que é mais do que já é. Vamos ficar com os pés no chão”, diz Rabelo.

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Jason DeCrow - 9.set.18/Associated Press Thiago Wild rebate uma bola na final do Aberto dos EUA

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