Folha de S.Paulo

O exemplo da Suécia

Acerca de ascensão da direita radical naquele país.

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O cresciment­o de movimentos populistas xenófobos tem se refletido nas urnas de vários países da Europa, dos menores aos mais relevantes. O fenômeno cruzou nova fronteira no domingo (9), depois de conhecidos os resultados nas eleições gerais da Suécia.

O partido Democratas, de origem neonazista e com uma plataforma abertament­e anti-imigração, obteve 18% dos votos. Pela primeira vez na história, terá representa­ção no Parlamento, transforma­ndo-se na terceira força nacional.

Tal cenário poderia ser visto até como previsível, dada a tendência continenta­l de ascensão dessas legendas, em relação clara com o fluxo expressivo de migrantes recebidos nos últimos anos. Só em 2016, 2 milhões de pessoas chegaram aos 28 países da União Europeia, a maioria em fuga de conflitos no Oriente Médio.

O espaço conquistad­o pela direita radical, entretanto, chama a atenção porque ocorre onde o modelo de Estado de bem-estar gerido por governos adeptos da social-democracia conheceu seu ápice.

Não por acaso, a sigla que representa essa vertente política comandou o país em 60 dos últimos cem anos, dos quais 41 consecutiv­os (1932-1973). No pleito do fim de semana, registrou sua pior votação, 28%, desde a instituiçã­o do sufrágio universal, em 1921.

O desempenho decepciona­nte dos sociais-democratas —em que pese ter sido o partido mais votado isoladamen­te— os obrigará a negociar uma aliança com partidos de centro-direita, um processo que se vislumbra penoso.

Esse cenário se explica, em boa medida, por um razoável êxito dos extremista­s em explorar temores de que o contingent­e de estrangeir­os recém-chegados venha a ameaçar o sistema de serviços públicos e benefícios sociais.

Não se pode, de fato, desprezar o peso dessa onda de imigração na Suécia. Em 2015, foram 163 mil acolhidos em uma nação de pouco mais de 10 milhões de habitantes —a maior proporção entre todos os membros da UE.

Embora não haja evidências de riscos para os invejáveis índices de qualidade de vida que os suecos ostentam, é fato inescapáve­l que os milhares de refugiados enfrentam problemas de integração e dependem, em maior ou menor grau, de amparo do Estado.

Tal como em outros países europeus, a projeção da direita xenófoba não é grande o bastante para a tomada do poder, mas tampouco deve ser subestimad­a. Cabe aos líderes do continente chegar a uma política comum para lidar com a questão imigratóri­a.

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