Folha de S.Paulo

Efeito mártir é modesto

- Hélio Schwartsma­n

Foi relativame­nte modesto o efeito mártir provocado pelo ataque a Jair Bolsonaro. Como mostra o Datafolha, as intenções de voto no candidato do PSL oscilaram apenas dois pontos percentuai­s para cima, apesar da ampla exposição no noticiário, e a rejeição a seu nome até subiu em relação ao levantamen­to anterior. O que isso significa para a corrida eleitoral?

Tudo o que não é proibido pelas leis da física pode acontecer. Em tese, até o cabo Daciolo pode ser eleito presidente. Mas, com base nas pesquisas, na literatura técnica, no histórico dos pleitos e no que se convencion­ou chamar de sabedoria política, podemos classifica­r como remota a possibilid­ade de o bombeiro militar sagrar-se vencedor.

Até que novos e mais surpreende­ntes imprevisto­s venham a abalar nossas profissões de fé bayesianas, o mais provável é que a disputa se dê entre Bolsonaro, Ciro, Marina, Alckmin e Haddad.

Mais até, dá para afirmar com alguma confiança que haverá dois turnos e que uma das vagas será ocupada por um representa­nte da esquerda, e a outra, por alguém do campo da direita. Isso significa que Ciro e Haddad vão brigar por um dos lugares, e Bolsonaro e Alckmin pelo outro. A melhor chance de Marina seria fazer colar o discurso antipolari­zação, mas seu escasso tempo de TV não a ajuda.

Se a transferên­cia de votos de Lula ocorrer como o PT espera, Haddad leva vantagem sobre Ciro. Se a coisa não for tão automática, o PT terá desperdiça­do um tempo vital ao retardar a oficializa­ção da candidatur­a do ex-prefeito de São Paulo.

Quem se encontra na situação mais complicada é Alckmin. Ele não tem alternativ­a que não a de bater em Bolsonaro, mas não pode errar na dose. Com o rival convalesce­ndo numa UTI, o risco é que a tentativa de desconstru­ção se volte contra o tucano. É um problema difícil de resolver, mas não impossível. Não faltam inconsistê­ncias na candidatur­a do militar reformado. helio@uol.com.br

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil