Em debate esvaziado após atentado contra Bolsonaro, propostas de candidatos frustram manicure indecisa
No salão de beleza em que a manicure Maria do Socorro Rodrigues dos Santos trabalha, num bairro nobre da zona sul de São Paulo, as opiniões sobre o atentado sofrido pelo presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) variavam entre extremos no fim de semana.
Uma cliente disse que o ataque parecia uma armação para aumentar as chances do candidato. Outra lamentou que ninguém tivesse tentado algo parecido contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A maioria achava que Bolsonaro ganhará a eleição.
Socorro pensa diferente. Ela não gosta do capitão reformado do Exército, que considera autoritário e sem o equilíbrio emocional necessário para governar. Mas diz que não gostaria de viver num país onde um candidato a presidente sentisse medo de andar nas ruas porque os adversários ameaçam hostilizá-lo.
A manicure tinha 20 anos de idade quando deixou a família no Ceará e se mudou para São Paulo. Criou sozinha os dois filhos e hoje, aos 44, ganha a vida entre o salão de beleza e os bares e as festas em que canta durante a noite.
Socorro tem amigos que cogitam votar em Bolsonaro. “O povo vota nele por revolta, não por esperança”, afirma. Ela ainda não decidiu. Votou antes em Lula e Dilma Rous- seff para presidente, mas acha que os petistas ficaram tempo demais no poder. Preferiu o tucano Aécio Neves em 2014, mas se arrependeu do voto.
No domingo (10), a manicure ligou a televisão para assistir ao terceiro debate presidencial da campanha, na TV Gazeta. Com Bolsonaro no hospital, Lula preso em Curitiba e o PT sem candidato definido, Socorro queria ver o que os outros partidos tinham a oferecer ao eleitorado.
O primeiro que chamou sua atenção foi Guilherme Boulos (PSOL), quando atacou os banqueiros ao fazer uma pergunta a Henrique Meirelles (MDB). Era uma provocação, a que Meirelles respondeu prometendo ampliar o Bolsa Família e criar 10 milhões de empregos em quatro anos.
A manicure não se comoveu com nenhum dos dois e se mostrou desapontada após ser informada de que Boulos lidera um movimento de sem-teto e defende invasões. “Um inveja o outro porque é rico, e o outro inveja ele porque não trabalha”, afirmou.
Seu filho mais velho, Pedro, 25, que cursa faculdade de fisioterapia, riu quando Geraldo Alckmin (PSDB) rebateu as acusações que enfrenta na Justiça, e novamente quando Meirelles defendeu a fundação, sediada num paraíso fiscal do Caribe, em que guarda o dinheiro que decidiu aplicar em educação após sua morte.
Quando Ciro Gomes (PDT) afirmou considerar injusta a condenação de Lula pela Lava Jato, a manicure e seu filho sentiram-se representados. “Tem muita gente envolvida nisso e todo mundo quer salvar a própria pele”, disse Socorro. “Por que só um está preso e os outros não?”
Ela também gostou quando ouviu Ciro, que foi governador do seu estado, defender investimentos em saúde. A manicure deixou de pagar o plano particular da família há um ano e agora só tem atendimento garantido na rede pública. Segundo ela, o sistema funciona melhor no Ceará.
Socorro e o filho dizem ter boas lembranças do tempo em que Ciro governou o estado, na década de 90, mas afirmam que faltou continuidade para muitos programas.
A manicure também se preocupa com a violência. Desde que se mudou para São Paulo, foi assaltada oito vezes na volta para casa, quatro a mão armada. “Botar arma na mão de todo mundo não resolve”, disse. “Como vai ser se todos puderem usar armas nas ruas?”
Socorro vive com os filhos numa casa alugada e acha que conseguiria pagar as prestações de um apartamento se conseguisse financiamento nos bancos. Mas ninguém tocou na questão habitacional durante o debate de domingo, o que a deixou decepcionada.
Socorro tem simpatia por Marina Silva (Rede), mas acha que não tem força política para ganhar a eleição. No fim da noite de domingo, continuava indecisa. “Todos falam a mesma coisa”, disse. “Eu queria acreditar que eles podem fazer o que estão prometendo.”