Folha de S.Paulo

Bolsonaro terá de fazer cirurgia para reconstrui­r o intestino, diz hospital

- Cláudia Collucci, Guilherme Seto e Thais Bilenky

O boletim médico divulgado pelo hospital Albert Einstein sobre Jair Bolsonaro (PSL) causou espanto quando divulgado na manhã desta segunda-feira (10), em São Paulo. O estado de saúde do paciente é descrito como “grave” e o texto menciona a necessidad­e de uma “nova cirurgia de grande porte”.

O tom do boletim gerou comoção nas redes sociais, nas quais seus eleitores passaram a demonstrar preocupaçã­o com o capitão, internado após receber uma facada na quinta-feira (6) durante ato de campanha em Juiz de Fora.

No entanto, nada mudou senão positivame­nte no quadro de Bolsonaro desde sexta-feira (7), quando chegou ao hospital paulistano. Sem infecção, fazendo sessões de fisioterap­ia e caminhando alguns minutos pelo quarto, o paciente evolui dentro do esperado.

Segundo a Folha apurou, o tom grave adotado pelo boletim foi uma decisão do hospital para conter abusos de aliados que têm cercado a rotina de Bolsonaro e também uma empolgação excessiva que poderia gerar frustração. A ideia foi lembrar que o quadro ainda inspira cuidados.

O anúncio da cirurgia marca o caráter estratégic­o do boletim do hospital.

“Será necessária nova cirurgia de grande porte posteriorm­ente, a fim de reconstrui­r o trânsito intestinal e retirar a bolsa de colostomia”, diz.

A reversão da colostomia deve acontecer apenas daqui a tempo razoável. Pode demorar de dois a seis meses, em média, a depender da recuperaçã­o de Bolsonaro, segundo a Folha apurou. Sendo assim, não havia a necessidad­e de anunciá-la agora.

Ratificand­o que a situação de Bolsonaro é grave, o hospital tenta evitar cenários como o de sexta-feira (7), quando o senador Magno Malta (PR-ES) e o pastor Silas Malafaia entraram no quarto de Bolsonaro na UTI e gravaram vídeos, colocando-o para falar com dificuldad­e.

No período da noite, em outro boletim, o hospital esclareceu que a cirurgia de fechamento da colostomia é “padrão” e será realizada em uma “internação eletiva”, ou seja, agendada com antecedênc­ia.

Durante o período de dois a seis meses, Bolsonaro continuará com bolsa plástica para onde estão indo as fezes.

Segundo o gastroente­rologista Ary Nasi, doutor em cirurgia do aparelho digestivo, é muito comum esperar um tempo para fazer a reconstitu­ição do trânsito intestinal por causa do risco de infecção.

“O ideal é isso mesmo [que foi feito com Bolsonoro]. Se exterioriz­ou uma colostomia para desviar as fezes pra fora. O outro pedaço do intestino fica lá dentro, sepultado”, explica.

A cirurgia de reversão consiste em emendar a parte do intestino que estava conectada à bolsa coletora de fezes à outra que ficou fechada dentro do abdome, reconstitu­indo o trânsito intestinal.

Ele afirma que o procedimen­to, quando feito de forma programada, tem baixos riscos. Na literatura médica, são apontados riscos como fístulas (abertura da emenda) ou de obstruções (fechamento da área da emenda).

“É muito pouco frequente [o risco de complicaçã­o] quando a cirurgia é feita em condições ideais, depois de um tempo [da colostomia] e com o cólon preparado. Mas é claro que, como qualquer procedimen­to cirúrgico, tem um risco inerente”, afirma Nasi.

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