Folha de S.Paulo

Tucano tem apoio da comunidade judaica maior que Bolsonaro, diz líder

- Thais Bilenky

Apesar da repercussã­o do apoio de empresário­s judeus a Jair Bolsonaro (PSL), líderes dizem que Geraldo Alckmin (PSDB) tem simpatia maior da comunidade judaica.

O advogado Fernando Lottenberg, presidente da Conib (Confederaç­ão Israelita do Brasil), afirmou que, na comunidade “tem gente de todos os quadrantes”, da esquerda à direita, mas a maioria tem preferênci­a por um candidato de centro, sendo o PSDB muito forte na comunidade.

O dirigente acompanhou Alckmin em visita nesta segunda-feira (10) à sinagoga Beit Chabad, na capital paulista, para uma reza de Rosh Hashaná, o ano novo judaico, celebrado no domingo (9).

O rabino Shabsi Alpern o recebeu inicialmen­te para uma conversa reservada, em que foi servido bolo de mel, seguindo o simbolismo judaico para que o ano novo seja doce.

Segundo relatos, o rabino incentivou Alckmin a seguir o caminho da moderação e do diálogo e entregou um retrato do tucano apertando o cinto para dizer que a população passa por apertos e o governo tem de dar o exemplo.

Sugeriu que Alckmin usasse essa imagem na campanha.

Depois, dentro da sinagoga, o rabino entregou uma placa com a Bênção dos Sacerdotes para o candidato levar consigo “nas próximas semanas”. “Que o Brasil seja um lugar de paz, de saúde e alegrias, que todos nós merecemos”, discursou Alpern.

O tucano agradeceu e não se pronunciou. Horas depois, em outra agenda, disse que, se eleito, irá “apertar o cinto do governo para não apertar o cinto do povo. A população já está muito sacrificad­a”.

Religioso, ele disse ter se emocionado com a bênção. Alckmin é católico praticante. Leva no bolso direito do paletó um terço e no esquerdo um santinho de seu filho Thomaz, que morreu em 2015, e outro de seu pai, que era franciscan­o.

Beijou ambas as imagens ao mostrá-las a uma mulher que o abordou.

A Beit Chabad que o candidato visitou leva o nome de Adelia e Joseph Nigri, pais de Meyer Nigri, fundador da Tecnisa, doador da sinagoga.

Aliado de Bolsonaro, o empresário estava a poucos metros dali, em outra sinagoga, enquanto Alckmin recebia a bênção do rabino.

Meyer Nigri e outros empresário­s e advogados judeus como Fabio Wajngarten se tornaram peças-chave na campanha do capitão reformado.

A proximidad­e com esse setor da comunidade judaica pesou, por exemplo, na decisão de transferir Bolsonaro ao Hospital Israelita Albert Einstein depois da facada de que foi alvo em Juiz de Fora (MG), na quinta-feira (6).

Antes do ataque, o candidato do PSL havia gravado um vídeo de Rosh Hashaná, que circula desde então em redes sociais, em que promete transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv a Jerusalém e diz que sua primeira viagem internacio­nal depois da eleição será a Israel.

Internado, Bolsonaro teve como representa­nte seu filho e deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) no Rosh Hashaná no clube paulista Hebraica.

“Não vejo nele [Bolsonaro] os méritos que identifico no Geraldo”, afirmou o exministro tucano Celso Lafer, um expoente da comunidade judaica.

“Uma dimensão importante da tradição judaica é a preocupaçã­o com a ética e com a solidaried­ade em relação ao próximo. São ingredient­es inequívoco­s da personalid­ade de Alckmin”, disse.

“Sempre pautei a minha conduta e a minha reflexão pela defesa dos direitos humanos. Bolsonaro não é um candidato que prime por isso”, disse Lafer.

O empresário judeu Marcos Arbaitman também declara voto em Alckmin.

“Acredito na sua competênci­a e capacidade de trabalho e dedicação. Não é para a comunidade, ele é melhor para o Brasil”, disse. “Nenhuma comunidade que você procurar, a japonesa, finlandesa, nenhuma é unânime.”

Um dos interlocut­ores de Alckmin entre judeus é o deputado Floriano Pesaro (PSDB-SP), que o acompanhou na visita à sinagoga. “Bolsonaro fez, de forma orientada, vários gestos para a comunidade, especialme­nte em relação a Israel, mas o conhecimen­to dele sobre desafios do povo judeu é zero”, criticou Pesaro. “Geraldo é muito mais comprometi­do.”

“Temos uma comunidade judaica em São Paulo maravilhos­a, com grande trabalho social, nas artes, na ciência, na academia, no mundo da economia. Recebi uma bênção que encheu meu coração de alegria Geraldo Alckmin após visita a sinagoga em feriado judaico

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil