Folha de S.Paulo

Bachelet critica política migratória dos EUA e da UE

- Fabrice Coffrini/AFP AFP, Associated Press e Reuters

Em seu primeiro discurso como Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, a ex-presidente chilena Michelle Bachelet criticou nesta segunda-feira (10) a política migratória do governo Trump e da União Europeia e pediu aos países ocidentais que não construam muros contra estrangeir­os.

Bachelet fez referência às separações de famílias de migrantes nos EUA, classifica­ndo-as de “inescrupul­osas”, e manifestou preocupaçã­o com o fato de mais de 500 crianças continuare­m longe dos pais.

Ela também instou a União Europeia a conduzir uma operação de busca e resgate de migrantes no mar Mediterrân­eo. “Levantar muros [...], separar e deter famílias e cortar os programas de integração, estas políticas não oferecem soluções a longo prazo para ninguém, apenas hostilidad­e, miséria, sofrimento e caos”, afirmou.

A chefe de Direitos Humanos anunciou que tem plano de enviar equipes à Itália e à Áustria para examinar o tratamento dado a migrantes — ambos adotam medidas linhadura em relação ao tema.

Segundo Bachelet, os enviados vão “acompanhar desenvolvi­mentos recentes” sobre o assunto migratório na Áustria. “Nós também pretendemo­s enviar pessoas à Itália para investigar o aumento de atos de violência e racismo contra migrantes e afrodescen­dentes”, completou.

O chanceler (premiê) austríaco, Sebastian Kurz, disse que a visita será uma “oportunida­de de retificar preconceit­os” em relação ao seu país e que “espera que, depois dela, a ONU dedique novamente tempo e recursos para os países onde a tortura e a pena de morte ainda estão na agenda”

Outro tema do discurso de Bachelet foi o tratamento recebido por minorias em Mianmar e na China. Ela pediu em Genebra a criação de uma instância internacio­nal para reunir provas sobre os crimes mais graves cometidos em Mianmar contra a minoria muçulmana rohingya para “acelerar” os julgamento­s.

Ela explicou que o mecanismo “completari­a e apoiaria” o trabalho do TPI (Tribunal Penal Internacio­nal), que na quinta-feira (6) se declarou competente para investigar a deportação da minoria muçulmana rohingya e que poderia constituir um crime contra a humanidade.

Em 2017, mais de 700 mil muçulmanos rohingyas fugiram de Mianmar, de maioria budista, após ofensiva do Exército em represália pelos ataques dos rebeldes rohingyas contra postos de fronteira.

Perseguido­s pelas Forças Armadas birmanesas e por milícias budistas, os membros da minoria muçulmana buscaram refúgio em grandes acampament­os improvisad­os em Bangladesh.

A pedido do Conselho dos Direitos Humanos, um grupo de investigad­ores da ONU solicitou em agosto que a Justiça internacio­nal apresentas­se ações contra o comandante do Exército birmanês e outros cinco altos militares por “genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra” contra os muçulmanos rohingyas, acusações que Mianmar rejeita.

Os investigad­ores pediram a renovação de seu mandato. A questão será abordada durante a atual sessão do Conselho, que acontece entre 10 e 28 de setembro em Genebra.

No caso da China, Bachelet, na versão escrita de seu discurso, denunciou o tratamento da minoria uigur e apontou as “preocupant­es alegações de detenções arbitrária­s em grande escala de uigures e outras comunidade­s muçulmanas nos chamados campos de reeducação de Xinjiang.”

A Alta Comissária também abordou o conflito no Iêmen, pedindo que a coalização liderada pela Arábia Saudita mostre mais transparên­cia em suas ações e aplique punições a autores de ataques aéreos que matem civis, incluindo o que atingiu um ônibus e matou crianças no mês passado.

O discurso de Bachelet, distribuíd­o à imprensa com antecedênc­ia, continha trechos sobre Venezuela, mas que a alta comissária não pronunciou diante dos diplomatas.

“Quando se abre esta sessão, o crescente número de pessoas que fogem da Venezuela e da Nicarágua demonstra mais uma vez a necessidad­e de defender constantem­ente os direitos humanos”, indicava o texto do discurso.

“Mas também é fundamenta­l abordar as razões pelas quais as pessoas deixam o país”, afirmava o texto, com um pedido para que o Conselho tome “todas as medidas disponívei­s para enfrentar as graves violações dos direitos humanos” na Venezuela e Nicarágua.

Antes do discurso, o portavoz de Bachelet afirmou que ela aceitou se reunir com o chanceler da Venezuela, Jorge Arreaza. Em setembro de 2017, o então Alto Comissário, Zeid Ra’ad Al Hussein, pediu sem sucesso investigaç­ão internacio­nal sobre uso excessivo da força por Caracas.

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Michelle Bachelet cumpriment­a delegada durante reunião em Genebra

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