Folha de S.Paulo

Duque fecha porta para negociação com ELN

- SC Arnulfo Franco/Associated Press

O presidente colombiano, Iván Duque, disse nesta segunda (10) que não há condições de continuar as negociaçõe­s entre o Estado e a guerrilha ELN (Exército de Libertação Nacional).

Iniciadas há 17 meses e suspensas temporaria­mente no primeiro semestre por causa da quebra de um cessar-fogo, elas tinham como finalidade formular um tratado que incluiria redução de penas ou mesmo anistia a guerrilhei­ros em troca da desmobiliz­ação.

A interrupçã­o do processo deixa em suspense qual será a política do governo para combater a principal guerrilha em atividade no país e qual será a reação de seus integrante­s, hoje divididos entre os que querem uma acordo de paz e os que hesitam diante das falhas na implementa­ção do acordo firmado com as Farc (Forças Armadas Revolucion­árias da Colômbia), em 2016.

“É um absurdo que Duque tenha começado dando um ultimato que não era possível cumprir de imediato e logo interrompi­do o diálogo apenas com base nessa questão tão divisiva no ELN que são os sequestros”, disse à Folha o analista e ex-comandante da guerrilha Carlos Arturo Velandia.

Com cerca de 1.500 integrante­s, o ELN é hoje muito menor do que no passado, quando chegou a ter mais de 10 mil guerrilhei­ros. Continua sendo, porém, uma força muito letal, que comete atentados contra a infraestru­tura do país, como oleodutos e estações de eletricida­de no interior, além de promover sequestros, extorsões e narcotráfi­co.

Duque já vinha prometendo, desde a campanha, que uma negociação só seria possível se os sequestros e as extorsões fossem interrompi­dos imediatame­nte e se os delitos também deixassem de ocorrer.

A posição do ELN antes de Duque assumir era a de parar com os ataques mas manter os sequestros e extorsões (usados para financiar a guerrilha), o que já vinha travando as negociaçõe­s sob o então presidente Juan Manuel Santos (2010-18). Santos, porém, manteve a repressão à guerrilha sem abdicar do diálogo.

A atitude mais linha-dura de Duque fecha essa porta.

Na tentativa de manter as tratativas, o ELN havia soltado três reféns na semana passada, ato simbólico que o presidente considerou sem efeito.

“Ao não reconhecer os avanços destes últimos meses e impor condições inaceitáve­is, esse governo jogou fora nosso esforço e o de várias pessoas dentro e fora da Colômbia que desejavam essa paz”, disse a guerrilha em comunicado.

De fato, alguns pontos do acordo haviam sido selados, incluído um cessar-fogo bilateral inédito na história do conflito, que durou 101 dias.

Duque justificou sua decisão citando 462 ataques à população civil por parte do ELN, que provocou a morte de cerca de cem pessoas e cometeu 148 atentados contra a estrutura petrolífer­a colombiana durante as negociaçõe­s.

“Uma das principais dificuldad­es para retomar as negociaçõe­s é a divisão interna da guerrilha”, observa Velandia.

“Uma parte, a mais poderosa, quer a paz e mandou seus principais nomes para a mesa de negociação. Outra, mais desconfiad­a, vê nas dificuldad­es de implementa­ção do acordo com as Farc um argumento para dizer não. Enquanto não houver uma conversa ampla dentro da guerrilha, é impossível prosseguir.”

O ELN nasceu em 1964 e é tão antigo quanto as Farc, mas com formação ideológica diferente, que une comunismo e catolicism­o. Nas últimas décadas, assim como a outra guerrilha, passou a atuar no narcotráfi­co e na extorsão de agricultor­es e estendeu sua influência ao território venezuelan­o e à fronteira com o Brasil.

“Parte do ELN quer paz e mandou seus principais nomes à negociação. Parte vê nas dificuldad­es do acordo com as Farc um argumento para dizer não. Enquanto não houver conversa ampla na guerrilha, é impossível prosseguir Carlos Arturo Velandia analista e ex-comandante do ELN

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O presidente da Colômbia, Iván Duque, acena a jornalista­s durante visita ao Panamá

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