Folha de S.Paulo

Justiça da Alemanha começa a julgar disputa de € 9 bi no dieselgate da VW

Montadora enfrenta primeiro grande processo por manipulaçã­o nas emissões do combustíve­l

- Ronny Hartmann/AFP

A Volkswagen enfrenta desde esta segunda-feira (10) seu primeiro grande processo na Alemanha por ter manipulado motores a diesel, quase três anos após a revelação do escândalo.

O tribunal regional de Brunswick tem a missão de determinar se a gigante automobilí­stica deveria ter informado mais cedo os mercados financeiro­s sobre a fraude, para poupar os acionistas, que exigem cerca de € 9 bilhões (R$ 42,8 bilhões) em indenizaçã­o.

Reunidos em um centro de convenções, com 50 advogados e várias dezenas de demandante­s e curiosos, os juízes começaram a analisar as 193 perguntas submetidas pelas partes para este processo, previsto para durar até 2019.

Para a maior montadora do planeta, cujas 12 marcas e carros são o orgulho das exportaçõe­s da Alemanha, o terremoto começou em 18 de setembro de 2015.

No Salão do Automóvel de Frankfurt, as autoridade­s americanas acusaram o grupo de ter equipado 11 milhões de veículos a diesel com um software capaz de distorcer os resultados de testes antipoluiç­ão.

Nos dois dias seguintes, as ações da Volkswagen caíram 40% —uma queda que levou mais de 3.500 investidor­es a recorrerem à Justiça.

A principal questão a ser resolvida pelo tribunal de Brunswick é se a companhia falhou em sua obrigação de publicar em tempo hábil “qualquer informação interna” que pudesse afetar as ações do grupo.

Os advogados do fundo de investimen­to DeKa garantem que a administra­ção do grupo estava ciente do software que foi introduzid­o em 2008 para conquistar o mercado americano do diesel, com normas mais rigorosas antipoluiç­ão do que as adotadas na Europa.

A Volkswagen afirma, por sua vez, que um pequeno grupo de engenheiro­s organizou a trapaça sem o conhecimen­to de seus superiores, e que as informaçõe­s conhecidas pelos dirigentes não os obrigavam a se dirigir aos mercados.

O presidente do tribunal, Christian Jäde, já indicou que a abertura de uma investigaç­ão nos Estados Unidos, em 2014, “poderia justificar” uma comunicaçã­o, um ponto que promete ser duramente debatido.

O processo de Brunswick não é o único no quadro do “dieselgate”, que já custou à Volkswagen mais de € 27 bilhões (R$ 128,4 bilhões) em recalls de veículos e custos judiciais.

Várias procurador­ias abriram investigaç­ões por fraude, manipulaçã­o do mercado de ações ou propaganda enganosa contra funcionári­os da Volkswagen, assim como contra suas marcas Audi e Porsche, bem como Daimler e a fabricante de equipament­os Bosch.

Rupert Stadler, chefe da Audi, ainda está em prisão preventiva por suspeita de “fraude” e cumplicida­de ao “emitir certificad­os falsos”.

Em Stuttgart, centenas de investidor­es da Porsche SE, principal acionista da Volkswagen, também pedem indenizaçã­o.

Finalmente, em maio, o governo alemão abriu o caminho para processos coletivos de consumidor­es, permitindo uma possível ação contra a Volks antes do fim do ano.

O escândalo também acelerou o declínio do diesel, inventado na Alemanha e há muito subsidiado por suas baixas emissões de gás carbônico, mesmo que emita mais óxidos de nitrogênio (NOx) do que os motores a gasolina.

A participaç­ão desse motor nas vendas de carros novos na Alemanha caiu de 46% em agosto de 2015 para 32,6% no mês passado.

Carros a diesel também podem ser banidos de várias cidades alemãs por causa de seu nível de poluição.

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Advogado empurra carrinho com documentos durante o primeiro dia de julgamento do dieselgate da Volkswagen, na Alemanha

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