Folha de S.Paulo

Mostra em NY convida público a experiment­ar obra de Lygia Pape

- Danielle Brant Divulgação

Lygia Pape era inquieta, mas não do tipo que não consegue resolver sua inquietude. Gostava de testar novos formatos, em uma produtivid­ade quase febril que deixou um legado de mais de 50 anos de trabalho.

Um recorte desses experiment­os em vídeo, tecidos e estruturas metálicas estará até 20 de outubro na galeria nova-iorquina Hauser & Wirth.

No local, o público poderá conhecer o trabalho da artista plástica, música, escritora e cineasta, morta em 2004, nome marcante da arte contemporâ­nea brasileira e um dos principais expoentes do neoconcret­ismo do país, ao lado de Lygia Clark e Hélio Oiticica.

Logo na entrada, surge uma estrutura metálica onde formas geométrica­s circulares e quadradas caem com a leveza do papel. A intenção é brincar com as percepções de quem entra em contato com as obras: afinal, como o metal pode envergar como se fosse pluma? Os efeitos não são aleatórios, diz a fotógrafa Paula Pape, filha de Lygia.

“A obra dela tem um fio condutor. Quando as pessoas começam a estudar e a ver os trabalhos, passam a entender o pensamento da artista.”

A mostra acontece pouco mais de um ano depois de o museu Metropolit­an, tam- bém em Nova York, exibir uma retrospect­iva de Pape.

O público que vai à exposição já é recebido por uma das obras emblemátic­as da série “Amazoninos” —uma explosão de chapas de ferro vermelhas e pretas recortadas, que parecem tentáculos buscando alcançar o visitante.

Os trabalhos da série foram concebidos durante visitas de Pape à floresta amazônica. “Era uma floresta retorcida, mas ela sentia que tinha muita vida”, diz Paula. A ideia das obras é remeter à força que a artista sentiu no local. “Era como se estivesse fazendo um filme de ficção: ela trouxe a abstração para um lugar orgânico.”

Uma criação de Lygia com Ivan Serpa também está na exibição. Ambos foram fundadores do Grupo Frente, marco no construtiv­ismo no Brasil.

O geometrism­o das “Ttéias”, instalaçõe­s com fios de ouro ou prata, é encontrado em duas disposiçõe­s ao longo da exposição. O primeiro está numa sala apelidada de capela.

A escolha não poderia ter sido melhor, diz Paula. “O silêncio é necessário. É uma obra que convida à meditação.”

É um trabalho que precisa também de movimento do espectador. A interação entre público e obra molda a percepção final sobre a peça. “Ela quer o outro, ela precisa do outro”, diz Paula.

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Obra ‘Tecelar’, feita por Lygia Pape em 1953, integra mostra na galeria Hauser & Wirth, em NY

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