Folha de S.Paulo

EUA têm 12,8 mil crianças migrantes em abrigos no país

Apreensão de famílias na fronteira com o México cresce 176% em agosto e governo culpa fim da tolerância zero

- Danielle Brant

O governo americano mantém um recorde de 12,8 mil crianças migrantes em abrigos no país, segundo o New York Times. O jornal diz que menos crianças foram liberadas para viver com suas famílias após serem apreendida­s na fronteira.

O governo americano mantém um recorde de 12.800 crianças migrantes em abrigos espalhados pelo país em setembro, de acordo com dados obtidos pelo jornal The New York Times e divulgados nesta quarta-feira (12).

O número representa um aumento de 433% em relação aos 2.400 menores sob custódia americana em maio de 2017, segundo o NYT. As informaçõe­s são do Departamen­to de Saúde e Serviços Humanos (HHS, na sigla em inglês) e foram obtidas pelo jornal com membros do Congresso, que receberam os dados.

O jornal diz que o salto não foi provocado pelo aumento do fluxo de crianças entrando nos EUA, mas sim pela redução do número de menores liberados para viver com suas famílias e outros responsáve­is.

O resultado é um sistema de abrigo federal próximo de atingir sua lotação máxima. Os abrigos operam perto de 90% da capacidade, comparados com os 30% de um ano antes.

A maioria das crianças cruzou a fronteira sozinha, sem os pais. Entre os menores há muitos adolescent­es da América Central, que são colocados em um sistema de mais de cem abrigos ao redor do país. A maior concentraç­ão está perto da fronteira com o México.

Pessoas familiariz­adas com o sistema de abrigo americano afirmam que apolítica de tolerância zero adotada em abri leque incluía a separação de famílias flagradas tentando entrar ilegalment­e nos EUA teve um efeito diferente do esperado pelo governo.

Em vez de desestimul­ar as migrações de uma maneira geral, desencoraj­ou apenas os pais e amigos da família de acompanhar as crianças.

Os números de agosto do serviço de Alfândega e Proteção das Fronteiras dos Estados Unidos (ICE, na sigla em inglês) também apontam para o baixo impacto da política de tolerância zero sobre as imigrações ilegais ao país.

As apreensões de famílias imigrantes na fronteira dos Estados Unidos com o México cresceram 176% em agosto em relação ao mesmo mês de 2017 e atingiram um patamar recorde para o mês, informou o órgão nesta quarta

Foram 12.774 famílias apreendida­s enquanto tentavam entrar ilegalment­e no país pela fronteira. Esse número também representa um aumento de 38% das apreensões em agosto na comparação com o mês anterior, depois de três meses de queda.

O governo americano atribuía a diminuição observada em maio, junho e julho aos efeitos da política de tolerância zero. O aumento de agosto, segundo Tyler Houlton, secretário de imprensa do ICE, é um “claro indicador” de que os fluxos migratório­s estão respondend­o a “brechas” no arcabouço regulatóri­o americano.

“Contraband­istas e traficante­s conhecem nossas frágeis leis de imigração melhor que a maioria e sabem que se uma unidade familiar entrar ilegalment­e nos EUA, ela deve ser liberada para o interior [do país]”, disse Houlton. O ICE deve liberar famílias que entram ilegalment­e no país dentro de 20 dias após a apreensão.

O secretário de imprensa ressaltou que a maioria das famílias liberadas, apesar de não ter direito a permanecer no país com status legal, não deixa os EUA e também não é removida.

Entre abril e junho, apenas 1,4% das unidades familiares foram repatriada­s a seus países de origem —entre os exemplos citados por Houlton estão El Salvador, Guatemala e Honduras.

Em agosto, as autoridade­s apreendera­m um total de 37.544 indivíduos tentando entrar no país pelo México, um aumento de 68% em relação a um ano antes e de 20% na base mensal.

No ano fiscal de 2018, o total de apreendido­s na fronteira sul chega a 355.106 —foram 281.379 no mesmo intervalo do ano passado. Além disso, 9.016 pessoas foram considerad­as inadmissív­eis, alta de 8,9% ante agosto de 2017 e de 4,2% contra julho.

O ano fiscal considerad­o pelo ICE começou em outubro de 2017 e termina neste mês.

Cerca de 3.000 crianças foram afastadas dos pais e enviadas a abrigos espalhados pelos EUA como resultado da política de tolerância zero do governo Trump. Segundo a ACLU, organizaçã­o de defesa dos direitos civis, 416 menores ainda estavam separados dos pais em 4 de setembro, sendo 14 com menos de cinco anos. Um juiz federal de San Diego havia determinad­o que todas as famílias fossem reunidas até 26 de julho.

A forte reação negativa tanto doméstica quanto internacio­nal forçou o presidente Donald Trump a assinar, em 20 de junho, um decreto para proibir a prática.

A Administra­ção republican­a esperava que a separação tivesse o impacto de inibir que outras famílias fizessem a travessia em direção aos EUA. Especialis­tas, porém, alertavam que era preciso acompanhar o movimento de outros meses para saber se as medidas de tolerância zero seriam eficazes ou não.

Muitos fatores podem influencia­r o fluxo de imigrantes, principalm­ente no verão [hemisfério Norte]. O calor intenso é um deles, já que a jornada é extensa e inclui áreas descoberta­s, como um deserto, e chuva.

Apesar de revogar a separação de famílias, o governo continua apertando o cerco contra a imigração ilegal. Uma das práticas tem sido a combinação de esforços de órgãos oficiais para deportar aqueles que buscam a cidadania americana depois de se casarem com um cidadão do país.

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